Investigadores criminais angolanos interrogaram em Lisboa e sem o conhecimento das autoridades portugueses o proprietário da casa onde foram detidos os 15 activistas do autodenominado Movimento Revolucionário a 20 de Junho em Luanda.
A denúncia foi feita nesta sexta-feira, 18, pelo jornalista e activista angolano Rafael Marques num colóquio organizado pela Amnistia Internacional na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, em Portugal, e no qual participaram também o escritor angolano José Eduardo Agualusa e a eurodeputada portuguesa Ana Gomes.
Segundo Marques, o vice-procurador-geral da República de Angola, Luciano Chackra, e "o indivíduo responsável pela detenção dos 15 jovens foram a Portugal interrogar o proprietário da referida casa, Alberto Neto.
“Foi em casa do Adalberto Neto que se realizaram esses encontros e no fim dos dois interrogatórios, na Culturgest, (Lisboa) pediram a Adalberto Neto para assinar o auto de interrogatório, mas explicando-lhe que não lhe podiam dar uma cópia porque era ilegal a justiça angolana fazer interrogatórios a um cidadão nacional em território português", denunciou o activista.
A revelação de Marques suscitou uma intervenção da eurodeputada socialista Ana Gomes que disse ter escrito ontem às ministras da Justiça e da Administração Interna e à procuradora-geral da República a pedir esclarecimentos sobre o incidente.
Gomes quer saber se o Governo português tinha conhecimento dessas investigações e, caso contrário, já exigiu um pedido de desculpas ao Executivo de Angola.
“Vai actuar contra estes agentes do Estado angolano que obviamente violaram a soberania portuguesa? Vou ficar à espera da resposta”, revelou Ana Gomes, que recentemente promoveu uma resolução do Parlamento Europeu que condenou o aumento de violações dos direitos humanos e da corrupção em Angola.