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Investigação parlamentar sobre deputado suspeito de traficar drogas gera desconfiança


Assembleia da República, Moçambique
Assembleia da República, Moçambique

Analistas dizem que o objectivo definido para a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mostra uma tendência preocupante, que pode indiciar que seja apenas para lavar a imagem do deputado suspeito, por causa das implicações que uma eventual confirmação poderia trazer para a Frelimo, no poder.

Depois da denúncia feita no início do mês pelo grupo parlamentar da Renamo, em sessão plenária, dando voz a uma alegada informação do Serviço Nacional de Investigação Criminal, ao nível da província da Zambézia, sobre a existência de um deputado tido como barão da droga, que opera através do Porto de Macuze, a Comissão Permanente da Assembleia a República, anunciou semana finda a criação se uma CPI para averiguar o caso.

Investigação parlamentar sobre deputado suspeito de traficar drogas gera desconfiança
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De acordo com o parlamento, a CPI, composta por sete parlamentares, (quatro da bancada da Frelimo, dois da Renamo e um do MDM) tem como objectivo "averiguar a veracidade da informação apresentada pelo Deputado Venâncio António Bila Mondlane, sobre o alegado envolvimento de um Deputado da AR no Tráfico de Droga, usando o Porto de Macuse, Província da Zambézia".

O objectivo definido para o trabalho da comissão está a gerar desconfianças, a começar no próprio deputado que deu voz à denúncia.

"Há uma tendência indisfarçável de, pura e simplesmente, querer direcionar a Comissão ao deputado Venâncio Mondlane, e não ao esclarecimento do tema em si, nomeadamente, de que existe ou não um deputado envolvido com o tráfico de drogas, portanto, está tudo deturpado" disse o parlamentar.

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Do lado de activistas sociais e académicos, também surgem desconfianças em torno do escopo definido para o trabalho da comissão.

O director do CDD (Centro para a Democracia e Desenvolvimento), Adriano Nuvunga, a comissão está com objectivos inclinados.

"Nos parece que a comissão é para proteger o deputado (suspeito), porque logo à priori, o foco da comissão é averiguar a veracidade das informações veiculadas pelo deputado, e este não devia ser o foco" disse Nuvunga.

"A denúncia foi feita. Moçambique tem Polícia de Investigação Criminal, pelo que, no nosso entender, era accionar essa polícia pelos mecanismos apropriados, para investigar este, que nos parece ser uma ponta do iceberg de um problema maior de tráfico de drogas por pessoas que usam passaporte diplomático em Moçambique", salientou.

Evitar constrangimentos

O Académico e analista Ricardo Raboco também deposita pouca fé no trabalho da comissão, por conta de eventuais implicações políticas que uma eventual confirmação do que se denuncia pode trazer.

"A haver uma investigação séria e comprovar o envolvimento deste deputado, e tendo em conta a teia e toda uma cadeia de ligação ao narcotráfico, há-de ser extremamente penalizador para o partido dominante (Frelimo), tendo em conta os pleitos que se avizinham, e também, há-de ser uma confirmação daquilo que há muito se suspeita, que é o nexus entre o Estado, Partido e o crime organizado, sobretudo o tráfico de drogas" disse o analista.

Em contacto com a VOA, António Niquice, presidente da CPI, disse que ainda não há data para o início dos trabalhos, nem o período para a conclusão do inquérito, situações que deverão ser definidas em reunião a ser convocada para breve.

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