Um programa que utiliza inteligência artificial (AI) para o despiste da tuberculose numa cadeia de moçambicana de alta segurança alimenta a esperança de que a nova tecnologia possa ajudar a erradicar a doença.
As prisões lotadas são um foco de tuberculose, a segunda doença transmissível mais mortal do mundo depois da Covid, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Moçambique, um país de 32 milhões de habitantes, registou cerca de 120 mil infecções no ano passado.
A doença é causada por uma bactéria que atinge frequentemente os pulmões. No ano passado, foram registados, em todo o mundo, 10 milhões de casos, tendo 1,3 milhão sido mortais, segundo a OMS.
Uma em cada quatro dessas infecções ocorreu em África.
No amplo pátio da cadeia de segurança máxima da capital moçambicana, Maputo, um recluso com uma t-shirt laranja estava diante de um tripé com um largo tablet branco.
Atrás dele, um médico examinava uma máquina portátil de raios X de duas peças conectada a um programa de IA, que foi aclamado como um avanço na luta contra a tuberculose.
“Ele processa em tempo real, temos o resultado em menos de cinco minutos”, disse o médico.
A imagem apareceu no computador de um técnico sentado a uma mesa do lado de fora de uma tenda médica a poucos metros de distância, junto com um diagnóstico.
“Sinais radiológicos sugestivos de tuberculose – negativos”, dizia a mensagem.
O programa faz parte de um grande teste da tecnologia para digitalizar todos os reclusos em três prisões em Maputo, conduzido por uma organização local sem fins lucrativos apoiada pela Parceria Stop TB, uma entidade apoiada pela ONU.
O diagnóstico precoce é fundamental para salvar vidas e combater a propagação da doença.
Embora a tosse crónica seja uma marca registada da infecção, as pessoas também podem transmitir tuberculose sem apresentar sintomas. As prisões são um terreno fértil devido às celas superlotadas e à transmissão aérea.
Os exames tradicionais de saliva, pele ou sangue para TB envolvem visitas a um laboratório e os resultados podem levar até três dias. O tempo mais rápido para resultados confiáveis é de 24 horas.
Avanço tecnológico
A combinação de IA e máquinas portáteis de raios X é mais rápida e elimina a necessidade de visitas a clínicas e radiologistas, que não são em número suficiente em áreas rurais pobres, disse o vice-chefe da Stop TB, Suvanand Sahu.
“Este é um grande salto em tecnologia”, disse ele.
Na Penitenciária Provincial de Maputo, os reclusos com resultados positivos são colocados em isolamento, trancados numa sala de quarentena atrás de uma porta de metal enferrujada.
Lá dentro, cerca de uma dezena de presos usando máscaras estão sentados em colchões jogados no chão. Roupas, cobertores e outros pertences estão pendurados numa corda amarrada entre dois pilares azuis descoloridos.
Os casos graves são levados para uma enfermaria.
As prisões de Moçambique tinham cerca de 50 por cento acima da capacidade em 2022, segundo a ONU.
“Não é fácil ver os seus amigos divertindo e passeando por ali, mas deves aceitar que estás doente”, disse Kennet Fortune, que passou 10 anos atrás das grades por crimes relacionados a drogas, apontando para as árvores no pátio da prisão.
Ele está atualmente em tratamento e o processo pode levar meses.
“Quando chegar a hora, estarei fora”, disse Fortune.
Um recente relatório da OMS concluiu que as mortes globais por tuberculose diminuíram, em 2022, mostrando progresso na erradicação da doença.
Sahu, da Stop TB, espera que o sucesso de programas piloto ajude a obter financiamento para ampliar o uso da IA no diagnóstico da tuberculose.
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