O grupo de insurgentes que actua na província moçambicana de Cabo Delgado desde outubro de 2017 continua a controlar a única via terrestre que ainda dá acesso a Palma, o distrito do mega projecto de gás natural, depois de incendiar duas viaturas durante um ataque, disseram à VOA nesta quinta-feira, 10, fontes locais.
Também hoje, há relatos de ataques contra a aldeia Nkonga, no distrito de Nangade.
Centenas de viaturas, carregadas de mercadorias e passageiros, continuam aglomerados em Nangade, junto à estrada de terra batida que dá acesso a Palma, depois de terem recuado na terça-feira, quando foram feitos os disparos contra as duas viaturas, que depois foram incendiadas na via.
“Agora para ir a Palma só pode ser por via aérea”, disse Abu Algy, um morador local, adiantando que a continuar sem abastecimento a vila vai ressentir-se em poucos dias da falta de alimentos básicos.
“Eles (comerciantes) confiam nesta estrada para pelo menos ter alguma coisa de vender aqui em Palma e estes camiões que voltaram na terça-feira estavam bem carregados para abastecer com produtos Palma”, acrescentou.
Um outro morador contou à VOA que, de forma tímida, no inicio da tarde e hoje alguns camiões “estão a arriscar seguir para Palma”, mas ainda não sabe se “algum chegou no destino”.
Noutro ponto do distrito de Palma, na segunda-feira, 7, um grupo de insurgentes invadiu a tiro a aldeia de Mute, a menos de 25 quilómetros da área de construção do mega projecto de gás natural liderado pela petrolífera francesa Total.
O ataque fez com que várias equipas das obras de infra-estruturas no projecto de gás ficassem paralisadas por questões de segurança, na terça e quarta-feira.
Mais ataques
Contudo, hoje, os rebeldes continuavam a lançar ataques contra a aldeia Nkonga, no distrito de Nangade, não distante das zonas dos anteriores ataques desta semana.
Na segunda-feira, 7, as forças de defesa moçambicanas recuperaram a aldeia Mute, que fica no limite dos três anéis de segurança para os mega projetos milionários de gás, no distrito de Palma.
A aldeia tinha sido ocupada pelos rebeldes a 5 de novembro e só dois depois as Forças de Defesa e Segurança (FDS) repeliram os insurgentes após forte batalha com baixas dos dois lados.
Entretanto também hoje nesta quinta-feira, 10, a revista Africa Intelligence avança que o Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, ordenou a contratação das empresas sul-africanas de defesa Paramount e Dyck Advisory Group, que já atua com mercenários, para fornecer apoio militar terrestre e aéreo no combate ao terrorismo em Cabo Delgado.
Os contratos com as duas empresas sul-africanas, negociados “pessoalmente” com o chefe de Estado, vão reforçar "substancialmente" a capacidade militar das Forças Armadas de Moçambique (FADM) e da Polícia da República de Moçambique (PRM), segundo a publicação.
A província de Cabo Delgado esta a braços há três anos com ataques de insurgentes, numa violência armada que está a provocar uma crise humanitária com cerca de duas mil mortes e 560 mil pessoas deslocadas.