Um grupo de insurgentes apoiados pelo Estado Islâmico está a intensificar o uso de bombas de fabrico caseiro, para emboscar e explodir viaturas no distrito de Muidumbe, na província moçambicana de Cabo Delgado, mas analistas consideraram haver um baixo risco de os explosivos serem usados em centros urbanos, como a capital Pemba.
Em menos de duas semanas, o grupo armado fez armadilhas com bombas artesanais na principal estrada que liga Mocímboa da Praia e Pemba, que provocaram a explosão e danificação de duas viaturas, incluindo uma viatura militar, no posto administrativo de Chitunda, no distrito de Muidumbe.
O incidente mais recente ocorreu na quinta-feira, 22, tendo os insurgentes aproveitado um buraco no asfalto para implantar uma bomba caseira, que se aciona através de uma corda, que explodiu sobre um camião de carga que circulava na via.
Na incursão anterior, no dia 9 de agosto, os insurgentes emboscaram, usando a mesma tática, uma viatura da Unidade de Intervenção Rápida (UIR), ligada à Polícia.
Um agente da UIR morreu e um comandante da unidade ficou ferido no incidente, que deixou a viatura destruída.
Preocupação e menos movimento de viaturas
Nazir Salimo, morador de Muidumbe, contou à Voz da América que o novo incidente ocorreu no troço entre Chitunda e Mungwe e reativou a preocupação de segurança sobre a zona, que recebeu muita população e reabriu escolas recentemente.
“A estrada está asfaltada, mas existem alguns buracos, então aproveitam-se desses buracos para colocar a mina deles. O carro ficou todo danificado, irreconhecível”, acrescentou Nazir Salimo.
Outro morador contou a partir de Macomia que o ataque da semana passada está a retrair a movimentação de viaturas.
“O ataque ocorreu entre Chitunda e Mungwe, e os carros que partem de Mueda, passando de Chitunda para Pemba, estão a circular timidamente, mas de Chitunda para Awasse não sei se estão a circular”, precisou a nossa fonte.
Baixo risco
Analistas políticos que acompanham o conflito em Cabo Delgado dizem que sempre existiu o risco, apesar de ser de baixa intensidade, de o grupo usar as bombas artesanais para ataques em centros urbanos, à semelhança dos grupos terroristas que atuam na Somália.
Wilker Dias observa que atualmente não há um perigo iminente dos insurgentes atingirem a cidade de Pemba, que concentra os escritórios das organizações humanitárias que ajudam os deslocados do conflito.
“Não creio que constitua um perigo iminente para já o uso de explosivos em centros urbanos, homens-bombas ou de viaturas armadilhadas, porque o interesse desta guerra é diferente com o terrorismo convencional, como no Ocidente e noutros países africanos”, explica Dias.
Expansão terrorista
Aquele analista polóitico crescenta que os insurgentes continuam focados em inviabilizar a realização dos megaprojetos bilionários de gás natural liquefeito, em Palma.
Por seu lado, Muhamad Yassine, especialista em terrorismo internacional, entende que os grupos armados que atuam em Cabo Delgado, por razões tradicionais, de língua e cultura, têm muita probabilidade de expandir suas ações para Nampula, onde o Governo concedeu há um mês a subsidiaria da petrolífera Italiana ENI, o direito exclusivo para conduzir operações de pesquisa e produção de petróleo na área Offshore Angoche A6-C.
Cabo Delgado, rica em gás natural, enfrenta desde outubro de 2017 uma insurgência armada com ataques reclamados por movimentos associados ao grupo extremista Estado Islâmico.
Moçambique recebeu o apoio da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral desde 2021 para combater o terrorismo, mas a missão militar SAMIM encerrou a 4 de julho de 2024, após “melhoria de segurança”, entretanto, sem estancar os ataques, embora alguns contingentes continuem na província, juntamente com tropas do Ruanda.
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