Um milhão e quinhentas mil pessoas poderão precisar, este ano, de ajuda alimentar em Moçambique em resultado da seca.
As Nações Unidas dizem que para reverter a situação são necessários, pelo menos, 200 milhões de dólares americanos.
O valor será usado para acções, que incluem a provisão de alimentação e água, ajuda na agricultura, saneamento, protecção e apoio à resiliência das comunidades.
Neste momento, a organização tem uma capacidade limitada para assistir a população nas províncias mais afectadas, em particular Sofala e Tete, daí a urgência da ajuda.
Claúdio Julaia, do gabinete da coordenadora residente das Nações Unidas em Moçambique, disse à VOA que “temos garantida assistência para cerca de 160 mil pessoas por um período de três meses”.
“Mas acredito que com a mobilização que estamos a fazer esse valor poderá aumentar”, disse Julaia, que acrescentou outras províncias com situação crítica são Zambézia, Gaza, Maputo, Inhambane e Manica.
O Secretariado Técnico de Segurança Alimentar e Nutricional (Setsan) informou que a “insegurança alimentar aguda” resulta do fenómeno climático El Nino.
Chuvas abaixo do normal verificam-se desde Janeiro em muitos distritos das províncias de Maputo, Gaza, Inhambane, Sofala, Manica e Tete, afectando adversamente a colheita de milho e de outras culturas alimentares e de rendimento, disse o Setsan.
A coordenadora residente das Nações Unidas em Moçambique, Márcia Castro, disse em comunicado, que a sua organização trabalha com o governo, que face à situação decretou alerta vermelho, para assegurar o apoio aos necessitados.
Castro realçou que entre as populações afectadas muitas são crianças menores de cinco anos de idade e mulheres grávidas ou amamentando com grave desnutrição.
A presente crise ocorre numa altura em que Moçambique ainda recupera das cheias que afectaram a produção agrícola, nos últimos anos. Naquele país de 25 milhões de habitantes, a agricultura é, ainda em larga escala, rudimentar.
Riscos de aumento da mortalidade materna
A situação vivida em Moçambique é similar a de muitos países da África austral e oriental, o que forçou os líderes da Swazilândia, Lesotho, Malawi e Zimbabwe a decretaram também a emergência.
Jonathan Ndzi, especialista em resposta à situações humanitárias no Fundo das Nações para a População (UNFPA) disse à VOA que “na África austral, 31 milhões de pessoas enfrentam a insegurança alimentar, e se a situação prevalecer poderá subir para 49 ou 50 milhões”.
Este médico ginecologista camaronês sublinha a importância de ser dada atenção às mulheres grávidas na resposta à calamidades do género.
A anemia, resultante da deficiente nutrição, diz Ndzi, quando se torna crónica concorre para a ocorrência de abortos espontâneos, nascimento de bebés com baixo peso e aumento da mortalidade materna.
Outras consequências incluem a interrupção do tratamento da Sida, vulnerabilidade das raparigas e mulheres à violência na busca de alimentos e água para as suas famílias e a fuga de pessoas para outros países à procura de melhores condições.
Ndzi defende que países como Moçambique precisam de colocar medidas de mitigação de calamidades nos seus planos de desenvolvimento e alocar os devidos recursos.
Caso não, as assumidas metas de desenvolvimento não serão alcançadas e “por muito tempo, os países dependerão da ajuda internacional”.