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Moçambique: Impunidade pode propiciar simulação de raptos


A impunidade dos mandantes dos raptos em Moçambique está a propiciar uma nova onda de burla, em que as vítimas simulam o seu próprio sequestro para tirar proveitos, sobretudo, financeiros, dizem vários analistas.

Em Manica, a polícia registou, em menos de um mês, o segundo caso de simulação de rapto, com a intenção de extorquir valores monetários no seio familiar.

O caso mais recente ocorreu na segunda-feira, 3, no distrito de Vanduzi, interior da província, em que duas estudantes universitárias simularam o seu próprio rapto para extorquir dinheiro à avó de uma das vítimas. As duas raparigas acabaram presas.

Em 2022, outro caso de simulação de rapto foi registrado, em que um homem simulou o seu próprio rapto para pedir resgate à família e quitar a sua dívida com agiotas.

Cancro social

Esse cenário, dizem analistas, pode ser resultado da inércia policial no seguimento de grandes raptos que, além de desgaste económico no tecido empresarial, estão a provocar uma quebra no contrato social.

Para o analista Wilker Dias os raptos domésticos são reflexo de um crime que está a se enraizar na sociedade alimentado pela ideia de que não há “preocupação por parte das autoridades” em estancar o crime.

“A desigualdade social é cada vez mais gritante e isso pode alimentar esta indústria de raptos a nível doméstico, e a impunidade é um mal a ter em conta”, para não se chegar a uma situação de caos social, vincou Dias.

Por sua vez Samuel Simango, analista político, realça que os raptos já são um cancro na sociedade moçambicana com consequências económicas, sociais e políticas, que incluem a fratura da garantia de segurança aos indivíduos e propriedades.

“Neste caso de Manica, não é a primeira vez que temos um rapto doméstico, que não visa empresários” anotou Simango.

Simango considera que “estas simulações demonstram que a Polícia tem uma fraca preparação técnica, psicotécnica e esta ausência de preparação resulta” na falta de esclarecimento dos raptos.

Por outro lado, disse Simango, “este caso de Manica deve mostrar à sociedade que o crime organizado tende também a domesticar-se, tende a passar a pequenos crimes, porque as pessoas entendem que (os raptos) podem ajudar a resolver problemas económicos ”.

Desde 2021 até Maio de 2023, dados oficiais indicam que houve 28 empresários ou seus parentes raptados, na sua maioria na cidade de Maputo e Matola, seguido de Beira e Manica.

As autoridades dizem que 15 casos já foram esclarecidos, faltando 13.

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