O atropelo dos valores morais, éticos, sociais e das leis de Angolas são na visão do jornalista e activista cívico Rafael Marques factores que concorrem para a pobreza de um país.
No caso de Angola, a actual precaridade é, em parte, por culpa da imprensa, na medida em que esta terá se coibido de denunciar os actos de corrupção, que levaram o país a esta situação.
Marques refere, por outro lado, que as condições e a situação social em si em Angola propiciam um ambiente de corrupção.
Diz ele que basta olhar para os salários da função pública e dos órgãos de segurança e defesa nacional para concluir que “vivemos numa sociedade em que ao invés de procurarmos abordar o que está errado para construir um Estado onde as autoridades possam dar garantias aos cidadãos, nós fazemos o contrário”.
“É quase impossível um indivíduo passar um mês sem cometer um acto de corrupção, menor: vai tratar um documento tem que pagar, vai à morgue levar um corpo tem que pagar. Praticamente a sobrevivência dos cidadãos está condicionada a uma série de atropelos que deve cometer” disse, Marques.
Fernando Macedo critica a falta de responsabilidade e de responsabilização de alguns jornalistas de Angola, que em troca de alguns benefícios pessoais prejudicam a maioria pactuando.
“É neste quadro que eu aproveito a oportunidade para denunciar os jornalistas que para terem mais um carro, mais uma casa e determinado nível de vida, não se importam de pactuar com a violação da Constituição e das leis instituídas”, disse o jurista, para quem a sociedade angolana é anormal.
O docente universitário referiu que os assuntos que constituem tabu para os governantes não devem ser vistos como contrários à democracia.
Para ele, alguns órgãos de informação, sobretudo os estatais têm estado a deturpar a verdade dos factos, pelo que cita como exemplo o facto de a Televisão Pública de Angola e Rádio Nacional de Angola terem anunciado a efectivação da diversificação da economia do país, antes mesmo do Executivo e contrariando o que o Presidente da República havia anunciado recentemente.
“Para a TPA umas “quintaszinhas” em Malanje, no Wako Kungo já é diversidade da economia”, disse.
A Crise teria sido evitada se a imprensa denunciasse o saque dos cofres públicos
Com vista à por cobro à crise económica, várias medidas têm sido ensaiadas, entre as quais o agravamento das taxas de energia eléctrica, água, luz, introdução da taxa de lixo, entre outras.
Marques afirmou que a crise que Angola enfrenta teria sido evitada com denúncias constantes da imprensa. “Com um debate mais aceso e mais regular, muitas das situações que estamos a viver agora nós teríamos evitado”.
De acordo com o autor do livro “Diamantes de sangue”, “o saque desenfreado dos cofres público, por exemplo, com a denúncia constante teria sido reduzido, haveria mais dinheiro para os hospitais e para as escolas”.
Na visão do jurista Macedo, os salários não são compatíveis com o nível de vida que muitos profissionais ostentam em troca do seu silêncio face à diversas atrocidades que tomam conhecimento.
“Quem não está com o regime, é contra o regime”, disse Macedo.
Marques defende que a imprensa em Angola é fundamental para criar mecanismos de mudanças de mentalidade, daí a necessidade de pressão para os jornalistas denunciarem os maus actos.
“Nós atingimos um ponto que não conseguimos ver a função do Estado, porque esta relação entre o cidadão, o dirigente e o Estado está praticamente deturpada”, disse Marques.