A Human Rights Watch (HRW)considera que o julgamento dos responsáveis da seita religiosa A Luz do Mundo em curso em Angola permitirá esclarecer os eventos de Abril de 2015 na província de Huambo, marcados por alegações contraditórias das autoridades e de grupos da oposição e activistas.
O jurista e activista cívico Angelo Kapuacha, diz que o julgamento visa apenas satisfazer a vontade do Governo, escamoteando a verdade dos factos e que na pratica os réus já foram condenados.
“A condenação material praticamente já aconteceu há muito tempo e o julgamento é apenas para formalizar aquilo que pela propaganda e pelo interesse político já foi consumado”, declarou.
Ângelo Kapuacha, presidente do Fórum Universitário (FORDU), com sede no Huambo, diz ter sido impedido em duas ocasiões de assistir ao julgamento e revela que a sua organização nos próximos dias vai publicar um relatório independente sobre os acontecimentos do monte Sumi, que resultaram na morte de cidadãos e agentes da Polícia Nacional.
“Haverá muitas reacções sobre o relatório e, sobretudo, para o bem da própria justiça”, disse.
Num comunicado de imprensa, a organização não-governamental Human Rights Watch (HRW) questiona se "houve um massacre no Huambo e considera que o julgamento "pode, finalmente, lançar luz sobre os eventos”.
A HRW destaca que “os arguidos enfrentam acusações de homicídio e tentativa de homicídio de agentes da polícia, desobediência civil, resistência à prisão e posse ilegal de armas de fogo.
O julgamento será a primeira oportunidade de contarem a sua versão dos factos",.
Aquela organização de defesa dos direitos humanos salienta ser "evidente que a morte indiscutível de nove agentes da polícia requer justiça e que as autoridades devem certificar-se de que o tribunal é capaz de conduzir o julgamento de forma independente, imparcial e competente".
A HRW defende ainda que as testemunhas do Governo no julgamento "também devem ser transparentes quanto à conduta da polícia e dar resposta às acusações de que dezenas de pessoas desarmadas, incluindo mulheres e crianças, podem ter sido assassinadas a tiro".
O Executivo negou que tenham morrido dezenas de pessoas, como sustentam grupos de oposição e activistas, mas recusou o pedido de acesso ao local dos acontecimentos feito por grupos da oposição, deputados e do Alto Comissariados da ONU para os Direitos Humanos "para a abertura de uma investigação independente".
Após o incidente, as forças de segurança angolanas isolaram a área, "declarando-a zona militar".
A HRW diz que "os activistas dizem que os soldados enterraram um elevado número de cadáveres em valas comuns e vários familiares de membros da seita declararam que ainda não foram capazes de enterrar os seus entes queridos. Somente duas semanas após o incidente foi concedido acesso ao local a um pequeno grupo de deputados e jornalistas, a quem foi feita uma visita orquestrada e vigiada de perto", no seu comunicado.
Acrescenta a HRW que "o julgamento de Kalupeteka sublinha a necessidade de justiça, tanto para as famílias dos agentes assassinados como para as famílias dos membros da seita que morreram. O julgamento deverá apresentar as investigações internas do próprio governo sobre os acontecimentos que, de uma forma ou outra, deveriam ser tornadas públicas pelo governo", defende a HRW.
A organização questiona, em conclusão, que se "afinal nada há a esconder, por que razão deverão os relatórios manter-se confidenciais? E por que não permite o Governo uma investigação independente ao que aconteceu?".