Os documentos recentemente publicados pelo governo americano revelam que os Estados Unidos tinham “um nível muito baixo de informação” sobre o que se passava em Angola em 1975, disse o economista e historiador angolano Jonuel Gonçalves que durante esse período ocupou uma posição no aparelho de estado angolano.
Gonçalves comentava à Voz da América as revelações contidas nesses documentos envolvendo as relações dos Estados Unidos com Portugal nesse período e em que fica evidente a preocupação americana que à luz da guerra fria com a União Soviética via com preocupação a ascenção do MPLA ao poder e o que considerava de favoritismo para com o MPLA a actuação do governo português, no período de transição.
“O que me surpreendeu foi o nível muito baixo de informação dos Estados Unido sobre a situação em Angola”, disse o economista que por outro lado fez notar que “a neutralidade que os norte-americanos pedem dos portugueses em relação aos movimentos de libertação é algo que eles próprios não estão a praticar”.
Na altura da transição, disse Gonçalves “o MPLA estava doido por ter relações com o ocidente e estavam os suecos a dizer isso o tempo todo”.
“Houve esse problema que foi a intervenção sul-africana que deixou o MPLA desesperado”, disse Jonuel Gonçalves para quem contudo o MPLA poderia “ter tornado isso num confronto entre África e África do Sul”.
Quanto ao facto dos documentos revelarem indignação americana perante o que vêem como a aceitação portuguesa de ajuda militar dos países comunistas ao MPLA, Gonçalves disse que a chegada do material não era segredo.
“Toda a gente sabia, estava à vista”, disse acrescentando que material de guerra chegava no entanto não só para o MPLA.
“Chegava pela fronteira sul para a UNITA e à FNLA, no Norte, chegou não só material mas homens, os mercenários”, recordou.
O economista angolano não se mostrou surpreendido pela revelação feita nos documentos que o então ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, Melo Antunes, tinha informado o Presidente americano Gerald Ford, um mês antes da independência de Angola que este país ia “cair no caos económico e administrativo”.
Jonuel Gonçalves disse ser de opinião que essa avaliação era aquela do ministro da economia no governo de transição de Angola, o economista português, Vasco Vieira de Almeida e recordou que numa conversa com ele Vieira de Almeida tinha afirmado “quando o caos começar...”
“Não usou a palavras se, usou quando e tudo o que Melo Antunes sabia veio dessa fonte”, disse afirmando que essa avaliação estava correcta.
Com a saída dos portugueses em massa era inevitável o colapso económico, disse.
Ouça a entrevista com Jonuel Gonçalves aqui: