A campanha eleitoral para as eleições legislativas antecipadas na Guiné-Bissau do dia 4 de Junho está na recta final, mas quem chega à capital, Bissau, pode não ter a percepção de que o futuro do país, que este ano completa o 50o. aniversário de Independência, está em jogo.
Com os líderes dos principais partidos a priorizarem o interior, em virtude da capital ser um terreno onde os eleitores, em tese e segundo observadores políticos, têm as suas preferências pré-definidas, a sexta-feira, 2, é apontada como um "medidor" de forças, principalmente, dos chamados partidos do arco do poder, PAIGC, que lidera a coligação PAI Terra Ranka, o Movimento para Alternância Democrática (MADEM-G15) e o Partido da Renovação Social (PRS).
A actividade partidária, na capital, tem estado nas mãos dos candidatos a deputados pelos diferentes círculos eleitorais, que, com animação musical e discursos, procuram os votos dos cerca de 900 mil eleitores.
No domingo serão eleitos 102 deputados que irão compor a Assembleia Nacional Popular e o partido ou coligação mais votada deverá formar Governo.
Nas ruas, há um sentimento de expectativa de que estas eleições poderão finalmente trazer estabilidade e desenvolvimento ao país.
Por outro lado, muitos eleitores ouvidos pela Voz da América revelam alguma incredulidade quanto ao selar de uma nova legislatura, sem conflitos e que chegará ao término legalmente estipulado.
Mais educação, melhor saúde, emprego e alimentação, no momento em que os produtores encontram-se a braços com o preço da castanha do caju abaixo do estipulado pelo Governo e com enormes perdas, são alguns desafios que os eleitores ouvidos pela Voz da América elencam ao futuro Governo.
Bilóbica Paulo Suma, professora e finalista da licenciatura em língua portuguesa, considera o voto uma "responsabilidade, para poder escolher bem quem vai dirigir o país para não se arrpender depois".
Ela espera que a "pessoa por quem votar cumpra o que prometeu" e defende durante a nova legislatura uma "maior valorização dos professores, tanto do ponto de vista das condições de trabalho, como do salário".
O também estudante universitário Serifo Djamanca diz estar "muito cansado" da situação actual e quer ver a Guiné-Bissau "a sobressair como os demais países vizinhos".
"A eleição que se avizinha vai definir a vida dos guineenses durante os próximos anos e temos de ver qual o programa que vai oferecer melhores condições", para a Guiné-Bissau, afirma Biossum Domingos Nhanque, professor de inglês que pela primeira vez vai votar.
Convidado para uma análise à campanha eleitoral e aos desafios que o país enfrenta, o historiador e antropólogo João Pinto Có diz que esta campanha tem sido bem diferente, com várias coligações e alianças que baralham qualquer previsão a nível de votos.
Có aponta que o ponto central da campanha tem sido o preço da castanha do cajú, com "os líderes a darem as suas opiniões sobre como enfrentar o problema"na tentativa de capitalizar votos.
Alerta, no entanto, para o facto de os direitos humanos "terem ficado de fora da campanha".
Aquele investigador sénior do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas (INEP) justifica a falta de debates, o que acontece pela primeira vez em vários anos, com o facto de "os líderes não quererem ser questionados ou desafiados".
Questionado se essas eleições poderão trazer alguma estabilidade política à Guiné-Bissau, que leve esta legislatura a chegar ao fim sem conflitos, João Pinto Có não tem esse entendimento e alerta para a pretensão do Presidente da República Umaro Sissoco Embaló de promover um regime presidencialista, apesar dos partidos terem manifestado a sua oposição por considerar "que estariam a ser esvaziados".
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