“Pedimos aqui de viva voz à comunidade internacional que dê a cara e que continue a apoiar a Guiné-Bissau e os profissionais de comunicação social", afirmou a presidente do Sindicato de Jornalistas e Técnicos da Comunicação Social (Sinjotecs) em conferência de imprensa nesta terça-feira, 8, numa reacção ao ataque a tiros à Rádio Capital FM, ontem, que deixou os estúdios da emissora praticamente destruídos e oito pessoas feridas.
"Os profissionais da comunicação social têm de dizer basta. Nós somos jornalistas porque queremos e gostamos de fazer este trabalho, precisamos de protecção e segurança para fazer o nosso trabalho", afirmou Indira Correia Baldé quem remeteu aos que se sentem criticados a irem ao tribunal como acontece “no mundo civilizado".
A jornalista e sindicalista destaca que agora acontecem factos à luz do dia que ameaçam os profissionais da imprensa.
“Pessoas encapuzadas com armas entrarem numa estação mostra que estamos perante um perigo, há uma ameaça clara ao exercício livre e independente do jornalismo na Guiné-Bissau, mostra que há uma campanha contra a liberdade de imprensa e de expressão", disse Baldé, para quem a Guiné-Bissau é um "país democrático" e que a "base da sua democracia é a voz da população".
A presidente do Sinjotecs questionou a afirmação do comissário adjunto da Polícia de Ordem Pública, coronel Salvador Soares, de que o ataque foi um "acto isolado", quando ele foi feito com "armas do Estado".
"Como é que as armas saem contra a população? Queremos ver a investigação chegar até ao fim", pediu Indira Baldé, quem reiterou que “exigimos respeito, segurança e protecção".
Pedido de demissão do ministro do Interior
Também hoje a Liga Guineense dos Direitos Humanos (LGDH) reagiu formalmente ao ataque de ontem, dizendo ter registado “com bastante inquietação mais um assalto à Rádio Capital FM, depois da mesma estação emissora ter sido assaltada e destruída por um grupo armado em Julho, sem que os autores do ataque tenham sido responsabilizados”.
“A imprensa livre constitui a espinha dorsal de uma democracia pluralista e do Estado de Direito. Este acto hediondo contra a Rádio Capital FM, para além de constituir um atentado à liberdade de imprensa, visa também semear terror no país, através duma vã tentativa de silenciar as vozes dissonantes, para melhor instalar um regime ditatorial na Guiné-Bissau”, lê-se no comunicado que chama o assalto de “acto bárbaro que visa silenciar um dos espaços que simboliza o pluralismo e a liberdade de expressão na Guiné-Bissau”.
A organização de defesa dos direitos humanos exige “das autoridades judiciais, em especial o Ministério Público, a abertura de um competente inquérito transparente e conclusivo para traduzir àjustiça os autores morais e materiais deste ato cobarde e sem precedentes” e pede a “demissão imediata do Ministro do Interior pela manifesta incapacidade de garantir a ordem, a segurança e a tranquilidade públicas, dando azo a instalação de um clima de terror e caos sem precedentes, suscetível de conduzir o país ao precipício”.
Além da manifestar a sua profunda solidariedade para com a Rádio Capital FM, a LGDH lança um “apelo de solidariedade aos cidadãos para a mobilização de fundos que permitirão a rápida reconstituição e retoma de funcionamento da Radio Capital”.
A emissora privada foi alvo de um ataque por homens armados por volta das oito horas da manhã da segunda-feira, 7, que destruíram praticamente os estúdios.
Oito pessoas, entre jornalistas e técnicos, ficaram feridos ao fugirem ao ataque.
A 26 de Julho de 2021, homens armados também entraram e destruíram os estúdios da Rádio Capital FM, que é parceira da VOA.
Na altura, o Governo anunciou a abertura de uma investigação, cujo resultado se desconhece e, até agora, não se pronunciou sobre o ataque de ontem.