A demissão na terça-feira, 18, de três membros do Governo guineense pertencentes ao partido do antigo primeiro-ministro e ex-conselheiro de Umaro Sissoco Embaló, Nuno Gomes Nabiam, a Assembleia do Povo Unido-Partido Democrático da Guiné-Bissau (APU-PDGB), está a ter leituras diferentes em Bissau.
Para alguns analistas, a saída dos três membros do Governo de iniciativa presidencial não vai afetar a governação, mas outros consideram que o Presidente da República está mais fragilizado politicamente.
O analista político Santos Nuno Mustas diz não haver margens para dúvidas de que o cenário político que se vive atualmente na Guiné-Bissau fragiliza o Executivo de iniciativa presidencial, em especial Umaro Sissoco Embaló.
"O Presidente da República está a sentir-se isolado politicamente e a decisão destes partidos políticos [MADEM-G15, PRS e APU-PDGB] em afastarem-se do Presidente da República tem consequências políticas para a agenda política do Presidente da República", aponta Mustas.
A decisão dos ministros da Cultura, Juventude, Cultura e Desportos, Augusto Gomes, e da Energia, Valentino Infanda, e do Secretário de Estado da Juventude, Garcia Biifa Bedeta, foi resultado da decisão do APU-PDGB tomada no dia 15 que retirou a "confiança política" ao Presidente da República e pediu aos sues membros que abandonassem o Governo.
De referir que tudo isso é o resultado da crise que tem afetado a relação política entre Umaro Sissoco Embaló, e e os líderes dos três partidos aliados, neste caso, Braima Camará, do MADEM-G15, Fernando Dias, do PRS e Nuno Gomes Na Bian, líder de APU-PDGB.
Santos Nuno Mustas aponta que a "agenda do Presidente Umaro Sissoco Embaló é mais na perspetiva de conseguir o segundo mandato, enquanto os partidos políticos têm outra agenda que vai além de suportar um candidato presidencial, ou seja, estamos perante uma situação em que o Presidente da República sente-se fragilizado do ponto de vista político, porque está a perder grandes aliados políticos".
Por seu lado, o jornalista Abdurahamane Djaló apresenta outra perspetiva de análise, apontando para alguma previsilidade deste cenário.
"Se olharmos a pressão do líder da APU-PDGB, enquanto o primeiro-ministro durante quatro anos, numa legislatura em que o PAIGC venceu, houve uma cambalhota de cinco deputados do PAIGC para uma outra bancada e que permitiu ao líder da APU-PDGB liderar um Governo durante quatro anos.Ele ficou calado ou mudo. Agora ele aparece, numa reação musculada, dizia mesmo venenosa, atacando o Chefe de Estado ,e atribuindo-lhe todos os males do país, de ditador e de ter capturado todos os poderes. Portanto, era previsível que estes membros do Governo obedecessem a orientação política do seu partido", resume Djaló.
Aquele analista político acredita, contudo, que o atual Governo vai sobreviver, porquanto não depende de qualquer base política partidária.
"É um Governo de iniciativa presidencial, não é um Governo de partidos que se juntaram no Parlamento para formar o Governo, é um Governo de responsabilidade absoluta do Chefe de Estado, nem do APU-PDGB, nem do MADEM-G15 e nem do PRS", conclui.
Entretanto, na terça-feira, 18, logo a seguir aos pedidos da demissão, o Presidente da República desvalorizou-os.
“Isto é uma questão júnior, que não merece a análise na reunião do Conselho de Ministros e de um tempo a esta parte tem-se verificado muita infantilidade política [na Guiné-Bissau] e tudo tem limites. Estou cansado disso”, afirmou Umaro Sissoco Embaló à saída da reunião extraordinária do Conselho de Ministros.
Estas são as primeiras baixas do Executivo desde que foi dissolvido o Parlamento a 4 de dezembro de 2023.
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