As autoridades angolanas estão a encontrar dificuldades em vender s dezenas de hotéis confiscados ao empresário Carlos São Vicente condenado em primeira instância por peculato, fraude fiscal e branqueamento de capitais.
Quatro meses após a realização do leilão electrónico, estão vendidos apenas quatro dos 39 hotéis das redes UI, IKA e BINA, nas províncias da Huíla, Namibe e Lunda Norte, com o Estado angolano a perspectivar receitas de mais de 14 mil milhões de Kwanzas, cerca de 15 milhões e 900 mil dólares.
Antes do leilão, a On Tour - Gestão de Serviços Hoteleiros, subsidiária do Grupo Omatapalo, ponderava concorrer, como admitiu à VOA, mas esta vontade começou por esbarrar logo no caderno de encargos.
Os preços são tidos como uma condicionante, principalmente para operadores nacionais, segundo fonte ligada a esta subsidiária, que lembra ainda a necessidade de um conjunto de obras nas unidades hoteleiras.
No caso dos hotéis apreendidos a São Vicente, avaliados em 415 milhões de dólares, conforme estima a Procuradoria-geral da República, existiam mais de 20 empresas interessadas, entre nacionais e estrangeiras, mas apenas três avançaram com o negócio.
Os compradores são a Endiama, empresa pública, a Viva Luanda, empresa detida pela Easygest - Economato, Equipamentos e Serviços e pelo expatriado Aminmahomed Ali Mamade Herji, e a Umbiserv, dos angolanos Ricardo Borges e Katyali Mutindi, segundo registos oficiais consultados pela VOA.
A par do que considera ser uma gota no oceano o número de hotéis privatizados, o presidente da Associação de Hotelaria e Turismo da Huíla, João Lopes, convida o Governo a olhar para a situação dos operadores do ramo, advertindo que a falta de liquidez pode condicionar este processo.
“Ninguém neste momento tem disponibilidade para assumir este compromisso com juros bancários nas referências em que estão”, avisa o líder associativo.
“Não vejo viabilidade neste negócio, a não ser que o Estado garanta condições de amortização especiais. Quem tiver liquidez … tudo bem, mas quem for buscar financiamento, não vejo nada com estes juros”, vinca.
O economista Janísio Salomão, igualmente consultor empresarial, sustenta as suas reticências com os custos de manutenção e a localização de muitos hotéis
“O investimento em activos imóveis também tem um custo de manutenção alto, e muitos deles estão em localidades sem actividade que garanta viabilidade”, disse Salomão para quem “mesmo estando a funcionar não conseguem pagar custos de estruturas e operacionais”.
O economista fez notar que “as empresas avaliam o capital e a localização, principalmente agora em fase de problemas económicos do país com reflexo muito directo no seu dia-a-dia”.
Contactado, o Instituto de Gestão de Activos e Participações do Estado (IGAPE), organismo adstrito ao Ministério das Finanças, remeteu a Voz da America para a nota de imprensa que confirma a venda de quatro hotéis.
As questões, como a desistência de empresas face ao caderno de encargos e os preços considerados altos, ficaram sem comentários.
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