Organizações profissionais da classe de jornalistas em Angola são unânimes em dizer que o cenário da comunicação social está ensombrado com o regresso da chamada "lei da rolha".
O Sindicato de Jornalistas Angolanos (STJ), a Comissão da Carteira e Ética dos Jornalistas e o Instituto para Media da África Austral (MISA-Angola) fala em "asfixia".
O Governo rejeita as acusações e afirma que Angola evoluiu em termos de liberdade de imprensa.
A auto-suspensão da emissão de conteúdos de cariz político e social na plataforma YouTube, por parte do canal Camunda News, foi o culminar de uma situação bastante difícil e que levou o SJA a concluir em comunicado que o actual quadro de liberdade de imprensa em Angola é asfixiante.
O Executivo, através de João Demba, director nacional para Comunicação e Institucional e Imprensa do Ministério da Comunicação Social, fala em classificações baseadas em estudos sérios e não em opiniões do SJA e diz que Angola melhorou na classificação de liberdade de imprensa de instituições sérias como a Repórteres Sem Fronteiras.
"Eu não considero haver asfixia, não sei de onde vem isso, há instituições sérias que fazem trabalhos como a Repórteres Sem Fronteiras, que dizem que Angola está bem nos últimos quatro anos, só tem melhorado no quesito liberdade de imprensa, não vamos acreditar numa opinião do Sindicato dos Jornalistas, quando instituições sérias que trabalham com dados e são reconhecidas internacionalmente, qual é o estudo feito pelo Sindicato para chegar a esta conclusão?"
Profissionais respondem com factos
A resposta veio do Teixeira Cândido, secretário geral do SJA.
"Nós não somos políticos, somos jornalistas só nos baseamos em factos, nós estamos no terreno, sentimos na pele os efeitos, não falamos de ouvir dizer, nem estamos em gabinetes! Se David Boyo (do Camunda) fizesse entretenimento, seria normal não ser chamado ao SIC, continuaria a emitir no YouTube, perguntem as entidades por que razão num Estado Democrático de Direito, o Governo é que suspende órgãos de comunicação social, como a Vida TV, a ZAP e outros?", afirmou Teixeira Cândido.
Cândido questiona: "como é possível um Presidente da República que é Presidente de todos, viajar permanentemente para o estrangeiro e não levar jornalistas de órgãos privados? É democrático?"
Luisa Rogério, a presidente da Comissão da Carteira e Ética dos Jornalistas (CEE) subscreve a posição do sindicato, e entende que nunca o cenário do exercício jornalístico esteve tão apertado como o que se vive actualmente.
"Cada dia aumenta o número de jornalistas à procura da CCE para se queixar de censura de suas matérias, de serem adulteradas as matérias, agora dizer que o comunicado do SJA é baseado em opinião, não é verdade, alguém acreditar que Angola melhorou em termos de liberdade de imprensa é falso, nós estamos num retrocesso claro", sustenta Rogério.
Por seu lado, o jornalista Guilherme da Paixão, em nome da MISA-Angola, diz que a situação é tão má que não aconselha ninguém a entrar para o jornalismo em Angola.
"Nós só estamos de derrapagens em derrapagens, estamos num beco sem saída, estamos de facto asfixiados, criou-se um clima de medo tal que os jornalistas estão cada vez mais no cafrique, como dizia João Paulo Ganga, ser jornalista hoje em Angola é das piores coisas que se pode aconselhar a um filho ou a um estudante, não há alternativas", afirma Paixão.
Uma das recomendações do SJA, em relação ao que ocorreu ao canal Camunda News foi dirigida à Entidade Reguladora da Comunicação Social (ERCA), só que este órgão, na óptica de um dos decanos do jornalismo angolano Avelino Miguel, nunca funcionou.
"A ERCA está completamente esvaziada, aliás os seus membros hoje já estão fora do prazo porque o mandato já terminou há seis meses" diz Miguel, enquanto Guilherme Paixão reforça: "Nem a ERCA, nem a "ARCA" funcionam neste país, estamos numa asfixia autêntica".
Refira-se que a auto-suspensão do Camunda News não decorre da lei em virtude de não existir legislação sobre o controlo do conteúdo digital.
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