O antigo presidente do Conselho de Administração (PCA) da empresa pública cabo-verdiana Emprofac, Gil Évora, demitido pelo Governo na sexta-feira, 21, depois de o seu nome ter sido citado pelo jornal americano El Nuevo Herald, como tendo reunido, com o Presidente da Venezuela Nicolás Maduro, em Caracas, na segunda-feira, 17, disse que a viagem teve um objetivo puramente comercial e que foi a convite do coletivo de advogados do empresário Álex Saab, detido em Cabo Verde.
Ele refuta a existência de qualquer encontro político e diz que não esteve em Caracas.
Saab, considerado por Venezuela seu enviado especial para assuntos humanitários, está no centro de uma batalha jurídica em Cabo Verde, onde foi detido a 12 de junho a pedido dos Estados Unidos, que aguarda a sua extradição.
O caso está no Supremo Tribunal de Justiça, depois do Tribunal de Relação de Barlavento ter decidido pela sua extradição, contra a vontade da equipa de defesa do empresário e do Governo da Venezuela, que tem investido forte na sua libertação.
“Não fizemos qualquer missão a mando de Governo algum e nem fomos emissários de quem quer que seja. Igualmente não estivemos em palácio presidencial algum pelo que não contatamos qualquer Presidente e muito menos entidades governamentais de um outro país. Neste sentido são globalmente falsos falar-se de encontros políticos, etc, e desejamos refutá- los integralmente pelo que apenas servem para alimentar o gáudio de alguns que nos querem à força metidos em qualquer enredo do qual não somos e nem queremos ser parte”, afirma Évora em comunicado divulgado neste sábado, 22.
Gil Évora, que esteve acompanhado de Carlos dos Anjos, antigo diretor-geral do turismo e atualmente consultor de empresas, explica que a viagem “resultou de um convite formulado pelo grupo de advogados [de Alex Saab] para um encontro de planeamento e programação de voos e vistos previstos para os meses de setembro e outubro para a ilha do Sal”.
Contato dos advogados de Alex Saab
Tudo começou no final de Junho, quando a defesa de Saab contatou “uma empresa cabo-verdiana de consultoria na área de aviação civil” e os advogados de Saab queriam “conhecer e estabelecer os trâmites de obtenção das autorizações para a realização dos voos e obtenção dos vistos de entrada em Cabo Verde, assim como outros aspectos logísticos face à necessidade premente de o grupo ter de se deslocar ao nosso país”.
Desde essa altura, a empresa de consultoria que Évora não revela o nome “vem tratando de forma legal e transparente estas questões, como atestam as notas trocadas com as instituições cabo-verdianas ligadas aos aspetos logísticos de que falamos”.
A viagem, segundo aquele gestor, teve por destino Saint Vincent e Granadines, local para onde “efetivamente nos deslocamos, missão totalmente custeada pelo grupo de advogados que se prontificou a assumir os encargos da deslocação num jato privado espanhol da Corunha, tendo em conta a inexistência de ligação em voos comerciais”.
Para se ausentar do país, Gil Évora terá pedido férias do cargo de PCA da Emprofac.
A notícia de "enviados especiais"
A notícia do El Nuevo Herald publicada no dia 18 revelou no entanto detalhes dos aviões e datas da viagem que terá tido por destino Caracas, onde Évora e Anjos,mantiveram negociações em que “participaram o Presidente Maduro e por video-conferência várias figuras do chavismo, entre elas o ministro de Petróleo, Tareck El Aissami, e o ministro da Informação, Jorge Rodríguez”.
No mesmo dia, a VOA manteve um breve contato a meio da tarde, via uma rede social, com Gil Évora, que disse encontrar-se de férias em Lisboa e que, como o artigo afirmava que eram enviados do Governo, que fosse questionado o Executivo da Praia.
Horas depois, o Ministério dos Negócios Estrangeiros emitiu um comunicado a garantir que não enviou qualquer missão à Venezuela.
Na sexta-feira, o Governo demitiu Gil Évora do cargo de PCA da Emprofac, “em consequência da violação dos deveres inerentes ao gestor público e desvio da finalidade das funções”.
Na nota de hoje, Gil Évora afirma que "tem o Governo um outro entendimento, em como, mesmo estando de férias, estaremos a exercer funções de gestor público. Não temos necessariamente a mesma interpretação”, refere a nota de imprensa.
O antigo PCA é peremptório ao dizer que, “olhando para trás”, acredita ter sido envolvido “num grande turbilhão de jogos de interesse entre países e entidades”.
Ele também negou ter viajado com muitas malas, como diz o artigo.
"Afirmar que desembarcamos com cinco malas quando na verdade apenas viajamos com o nosso “carry on” são artificialidades deliberadas com o propósito firme de inflamar e atacar o bom nome das pessoas”, garante Gil Évora, quem lamenta que “de uma deslocação meramente comercial, alguns quiseram tirar dividendos políticos, geo-estratégicos e lançar confusão”.
Gil Évora conclui dizendo que não se pronunciará mais sobre o tema.
Também hoje, depois do secretário-geral PAICV, principal partido da oposição, Julião Varela, ter desafiado o Governo a “explicar, de forma clara” a ida dos dois empresários à Veneuzlea, o primeiro-ministro Ulisses Correia e Silva reiterou que “o Governo do Estado de Cabo Verde não enviou nenhum emissário para a Venezuela e não enviará, porque estamos com um processo judicial em curso”.