A insuficiência de equipamentos no Caminho-de-ferro de Benguela (CFB), assumida pouco depois do anúncio de concessão, com o Presidente angolano, João Lourenço, atento ao investimento alemão, está a levantar interrogações sobre a gestão dos dois mil milhões de dólares que saíram da China para o projecto de reabilitação e modernização.
A propósito do factor transparência, levantado na sequência do debate sobre casos de roubos no trajecto Benguela/Huambo e escassez de locomotivas, um analista político considera que o discurso do Chefe de Estado angolano não deve condicionar a força do futuro.
Ainda não se conhece o modelo, mas é certo que o contrato para a exploração, que pode trazer ao país empresários alemães, encontrará um CFB sem meios para as suas operações, que incluem a movimentação do minério da República Democrática do Congo.
O presidente do Conselho de Administração, Luís Teixeira, fala em insuficiências.
‘’Estamos sem capacidade para atender a demanda, sobretudo nos trajectos com mais passageiros, Huambo, Bié e Luena. Temos, por exemplo, 97 carruagens, quando precisamos de duzentas e cinquenta’’, diz o administrador.
De interrogações em interrogações, o analista político Cabral Sande, filho de um antigo ferroviário, começa por lamentar que o CFB esteja a ignorar o turismo.
‘’Neste momento, o CFB devia estar preocupado em saber onde estão as locomotivas a vapor, os chamados comboios/mala, que são meios que ajudariam a ser mais-valia, fariam rios de dinheiros por via do turismo. Ainda não explicou aos angolanos as questões sobre os milhões e milhões e já está a pensar em entregar de mãos beijadas a indivíduos que, implicitamente, o ajudaram a falir’’, realça Sande.
Na vertente responsabilização, Sande aponta o dedo à direcção do Ministério dos Transportes, mas não sem antes analisar a postura do agora Presidente da República e do partido no poder
‘’O discurso do Presidente da República e do MPLA não é uma moratória. Pode ter servido para se reconciliar com o passado, mas não deve hipotecar a força do presente e do futuro. Não podemos achar de normal que as pessoas venham não sei de onde para ficar com uma coisa que custou a vida de milhares de angolanos. Então, vamos chamar os vários ministros dos Transportes e seus adjuntos e assinar um contrato para que eles, com o seu próprio dinheiro, façam a exploração, assumindo o Estado as suas responsabilidades. Ninguém saiu de lá isento da calamitosa situação’’, aponta o analista.
O CFB, a precisar de vagões, carruagens e locomotivas, transporta em média sete mil toneladas de mercadorias por mês e 86 mil passageiros.