Cabo Verde assinala esta quarta feira, 13 de Janeiro, o dia da Liberdade e Democracia.
Há 30 anos realizavam-se as primeiras eleições democráticas e livres no país, colocando fim a 15 anos de partido único.
Três décadas depois, a data é considerada um marco fundamental da história do país e, em jeito de balanço, esse processo tem ganhos, mas ainda há desafios.
O líder do Movimento Cívico Sokols defende mais e melhores mecanismos para o exercício democrático e desenvolvimento equilibrado de Cabo Verde.
Salvador Mascarenhas afirma que a instauração da democracia constitui um dos grandes ganhos, mas diz que nos últimos anos o país regrediu nesse capitulo.
Aquele activista social entende ser necessário e urgente a alteração da lei eleitoral de forma a permitir uma maior participação cidadã, através de candidaturas de cidadãos independentes,implementação da regionalização e despartidariziçao do aparelho do Estado.
Mascarenhas acrescentar ser "dever de um líder politico e do Governo promover a diferença e não eliminar toda a possibilidade de ideia diferente, porque é através da diferença que se encontra as soluções para o dia-a-dia e desenvolvimento do país".
Por seu lado, na opinião do presidente da Confederação dos Sindicados Livres - CCSL, o país goza de maiores liberdades nos últimos 30 anos de regime democrático.
Como processo evolutivo, José Manuel Vaz considera que é preciso acelerar passos visando melhorar alguns aspectos que ainda limitam certas liberdades e direitos dos cidadãos.
"As coisas do passado continuam a influenciar o presente. Estamos a tentar libertar disso e dar passos para ter a democracia e liberdade que todos desejamos", afirma o dirigente sindical.
Por sua vez, a antiga bastonária da Ordem dos advogados diz que o percurso democrático está sendo feito com solidez, às vezes com alguns recuos e dificuldades, como a morosidade da Justiça.
"As instituições funcionam e as eleições feitas regularmente", diz Sofia Oliveira Lima, que considera que o conjunto das vontades e evoluções individuais é que vai melhorar "a nossa democracia".
Partidos querem mais
Na esfera politica, os três partidos com assento parlamentar consideram que nestes 30 anos do regime democrático o arquipélago registou ganhos assinaláveis.
No entanto todos reconhecem que ainda há um défice na cultura prática da democracia, situação que limita a liberdade .
Para a vice presidente da UCID, não basta apenas a realização regular de eleições, mas também a necessidade do exercício pratico no dia-a-dia, por forma a que as pessoas se sintam abertas a expressar os seus sentimentos livremente, sem receio de represálias.
Dora Ariana Pires diz que não se justifica que passados 30 anos ainda haja "perseguição" pelo facto de uma pessoa pensar de forma diferente ou por vestir a camisola de um partido que não esteja no poder.
"Para mudar isso, há que se fazer um trabalho de fundo no seio dos partidos políticos, no sentido de termos a noção clara que vivemos numa democracia e devemos respeitar a cor politica e as ideias de cada um", diz a deputada democrata-cristã.
A vice da UCID defende ainda a necessidade de se reforçar a cultura do diálogo, porquanto nota-se em determinados momentos uma tendência para "arrogância e prepotência" da força politica que detém a maioria, facto que, para ela, não abona a uma sã convivência e desenvolvimento harmonioso do país.
Por sua vez, o secretário geral do PAICV destaca que a democracia constitui um exercício que deve ser praticado todos os dias, para que cada cidadão possa pensar e manifestar as suas ideias de forma livre, sem medo de possíveis represálias.
Apesar dos ganhos assinaláveis, Julião Varela afirma que ainda persistem algumas barreiras que limitam a vivência democrática.
"A questão da auto-censura constitui uma das barreiras, isto significa que as pessoas ficam condicionadas pela sua dependência económico-financeira do Estado, mesmo estando no sector privado infelizmente por insuficiência de recursos não permite que se exerça com total liberdade e independência", afirma o dirigente do maior partido da oposição.
Já o MPD, partido vencedor das primeiras eleições pluralistas de 1991 e actualmente no poder, considera que os ganhos da democracia são enormes, reflectindo na melhoria da educação, saúde e sócio económico dos cabo-verdianos.
A secretária-geral do partido ventoinha, Filomena Delgado, afirma que a caminhada pode sempre ser melhorada e para isso defende a implementação de mecanismos de ensino da cultura democrática nas escolas, para que desde a tenra idade os cidadãos possam incutir os princípios democráticos e poder colocá-los em prática no dia-a-dia.
"O Estado, os partidos políticos devem assumir as suas responsabilidades no aperfeiçoamento do processo, mas entendemos que os cidadãos têm o dever de contribuir de forma activa e responsável”, realça Delgado.
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