O Comité Central da Frelimo vai reunir-se de 26 a 29 de Março, na cidade da Matola, numa sessão em que poderá ser debatida a questão da existência de dois centros de poder, vistos em alguns círculos políticos como estando a dificultar a governação do Presidente Filipe Nyussi. Ainda não foi divulgada a agenda da sessão, mas uma fonte partidária assegurou à Voz da América que o encontro poderá discutir se o actual Presidente da Frelimo, Armando Guebuza, deve ou não entregar o poder ao Chefe de Estado, Filipe Nyussi.
Nos últimos tempos, esta questão tem dominado o debate político em Moçambique, havendo correntes dentro da Frelimo que defendem que, tal como tem sido prática, Nyussi deve assumir também a presidência da Frelimo.
Há uma forte pressão sobre Guebuza, e Teodato Hunguana, nas hostes da Frelimo tido como uma figura controversa, defendeu recentemente, alto e bom som, que tal como aconteceu com Samora Machel, Joaquim Chissano e o próprio Armando Guebuza, (antigos Presidentes de Moçambique e da Frelimo), Filipe Nyussi também deve ser presidente da Frelimo, para, de forma autónoma, implementar as suas ideias de governação.
Cabe ao Congresso tomar uma decisão desta natureza, mas acredita-se que se possa fazer um arranjo, o que, a acontecer, poderá beliscar, de alguma forma, a imagem de Filipe Nyussi, uma vez que vai ser eleito por pouco mais de 100 membros do Comité Central, contra cerca de dois mil delegados ao congresso.
Há quem diga que esta sessão vai decorrer numa altura em que a Frelimo está a braços com graves problemas internos, resultantes, fundamentalmente, da alegada existência de dois centros de poder no Partido.
O porta-voz da Frelimo Damião José diz ser falso alarme afirmar que há posições contraditórias sobre este assunto, "porque não é mera vontade de qualquer um dos camaradas ser presidente do partido, mas sim uma orientação partidária".
O especialista em relações internacionais e assuntos de segurança do Instituto Superior de Relações Internacionais de Moçambique Calton Cadeado afirma, por seu lado, que a Frelimo está a sentir muito a transformação da sociedade moçambicana.
"Esse peso de transformação da sociedade associa-se muito ao facto de a Frelimo estar a ver, hoje, um país com muitos jovens intelectuais, uma massa crítica que indaga, e um pouco também com alguma expressão, uma sociedade que já começa a questionar o tempo de governação da Frelimo", realçou o académico.