Especialistas dizem que o início da formação de fuzileiros moçambicanos por instrutores dos Estados Unidos tem o potencial de preparar terreno para outro tipo de intervenções norte-americanas em Cabo Delgado, no contexto da luta contra o terrorismo.
Após o anúncio feito pelo Governo dos Estados Unidos, relativo ao início do programa de formação de fuzileiros moçambicanos para ajudar a combater o terrorismo em Cabo Delgado, a constatação imediata é que os americanos aumentaram a sua presença em Moçambique.
No passado, o Governo norte-americano ofereceu equipamento militar, habitualmente em segunda mão e auxílio humanitário mesmo no âmbito militar.
"É, claramente, uma tomada de posição em relação a Cabo Delgado, e isto é complementado por uma declaração que tinha sido feita antes pelo Governo norte-americano, identificando o líder do ISIS (Estado Islâmico) em Moçambique", afirmou o analista Fernando Lima.
Lima avançou que através desta formação de fuzileiros moçambicanos, o Governo norte-americano quer mostrar, "em termos práticos, que não fica apenas pelas declarações formais e quer, de facto, apoiar Moçambique neste combate à violência em cabo Delgado".
Experiência americana
O politico Raúl Domingos destaca que, "certamente, a partir desta formação de fuzileiros moçambicanos, assistiremos a outras intervenções norte-americanas em Moçambique, e para mim, essas eventuais intervenções são bem-vindas, porque estamos a falar de uma potência que não só tem meios logísticos como também tem experiência de lidar com terrorismo."
Domingos anotou que "os terroristas em Cabo Delgado usam drones, e para fazer um contra-ataque eficiente, temos que também esses meios, não podemos continuar com Ak-47 atrás de terroristas que usam drones".
Por seu turno, o Calton Cadeado, especialista em relações internacionais, entende que o facto de o Governo norte-americano ter considerado organização terrorista o grupo armado que tem estado a atacar a província de Cabo Delgado e o início da formação de fuzileiros, é uma indicação de que os Estados Unidos "querem elevar a sua presença securitária em Moçambique".
Para o pesquisador Borges Nhamire, os americanos já estão em Moçambique, "porque temos aqui as Forças de Operações Especiais, mas, claramente, a presença de instrutores norte-americanos é fundamental no combate ao terrorismo em Cabo Delgado".
Forças externas no combate
Nhamire referiu que a melhor coisa é formar moçambicanos para serem eles próprios a combater o terrorismo, do que trazer estrangeiros, "porque em guerras ou relações entre estados não há irmandade".
Entretanto, há quem considere que as autoridades moçambicanas, que sempre se opuseram à presença de forças estrangeiras em Moçambique, estão agora a mostrar alguma abertura relativamente a este assunto, com a vinda de instrutores norte-americanos.
Contudo, Fernando Lima não vê as coisas nesta perspectiva, porque apesar de as declarações do Governo não terem sido muito claras nesse aspecto, Moçambique, numa primeira fase, disse que não queria eram forças externas de combate, "e esta presença americana é claramente, para formação".
Aquele analista sublinhou que "não obstante o facto de ser uma pequena força no terreno, isso habilita os Estados Unidos e as suas forças armadas a terem uma melhor percepção do que se passa em Cabo Delgado, que tipo de desafios de naturea militar que encontram em Cabo Delgado, e, claramente, prepara, potencialmente, o terreno para outro tipo de intervenções".