A fome continua a afectar dezenas de pessoas necessitadas nos centros urbanos, periurbanos e nas zonas rurais da província angola de Malanje.
A acrescentar a este cenário, o número de doadores colectivos ou singulares para apoiar as camadas mais pobres reduziu consideravelmente nos últimos anos e a comparticipação do Governo não satisfaz.
É frequente ver-se muita gente a comer do lixo.
O coordenador provincial dos programas e serviços da Cruz Vermelha de Angola em Malanje, Pacheco Serrote, diz que com o pouco que a organização angaria auxilia alguns centros e lares de acolhimento.
Nas comunidades a precariedade é assustadora.
Numa deslocação à periferia da cidade de Malanje, “encontramos uma família de cerca de 10 pessoas que não tinham o pequeno-almoço, não tinham o almoço e esperavam pela refeição do jantar, às 16 horas. Imagine que num número de 10 pessoas uma sardinha seca, meio quilo de fuba de bombó”, lamenta Serrote.
Milhares de pessoas carentes de cinco regiões do país, atendidas anteriormente pela Cáritas de Angola, vêm-se hoje a braços com a falta de alimentos, segundo o técnico da direcção-geral daquele braço social da Igreja Católica.
“Começando pela seca no sul de Angola e em todas as partes do território nacional, o número é variável, mas é um número muito alarmante e muito grande. Só para termos uma ideia nos dias de hoje, temos muita dificuldade de sairmos para fora [rua] e descobrir quem é uma pessoa sã e quem uma pessoa maluca [demente], por exemplo, porque todas estão ao redor do lixo à procura de uma coisa para comer”, afirma Salomão Joaquim, justificando que “na maioria dos caos nem o próprio lixo para comer já não existe”.
Ainda na periferia da cidade Malanje, no bairro Sambizanga, por exemplo, o nível de pobreza é acentuado na camada dos idosos doentes.
“Não tenho nada, tenho que ir em cada casa pedir emprego de lavar roupa, vender roupa de alguém para conseguir [dinheiro] para comer com os meus filhos e irmãos”, conta Fátima Garcia, de 26 anos de idade, acrescentando que “nós não temos nada, queremos pedir tanto a ajuda do governo que pelo menos olhem para nós que não temos pai, não temos mãe”.
Aidne Aires, a administradora municipal de Malanje para área social, diz que o número de pessoas com dificuldades alimentares é enorme, mas particularizou os habitantes do bairro Sambizanga.
“Nós temos lá muitas pessoas vulneráveis e que têm estado a beneficiar com cestas básicas, apoios de vária ordem, tanto no âmbito da Administração, Governo da Província e [de] outros parceiros singulares que nós temos tido, e estamos em bom caminho”, justifica a gestora.
Nas ruas dos principais centros urbanos é cada vez maior o número de crianças de rua e na rua e uma fonte do Instituto Nacional da Criança, que pediu o anonimato, admite, entretanto, que neste caso o fenómeno possa estar ligado à falta de prestação de alimentos por parte de um dos progenitores.
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