A fome em Angola está alastrar-se através do país e em algumas províncias quatro pessoas morrem de fome todos os dias, revela um estudo acabado de publicar.
A pesquisa realizada pelo projecto “Saúde Comunitária” inclui um estudo epidemiológico e demográfico e segundo o médico Fernando Sebastião, coordenador do projecto e da pesquisa, constatou-se um quadro social “bastante precário, onde 90% da população-alvo da pesquisa vive em condições de miséria extrema”.
“A fome em Angola existe e é severa”, disse acrescentando que “práticamente está a se ramificar em todas as províncias de Angola, por causa de determinados eventos que surgiram como a pandemia que criou a cerca sanitária e facilitou o aumento da fome”.
O médico e pesquisador acrescentou que a seca no sul de Angola, a falta de sensibilidade humana e de vontade política de quem governa o país são outras das causas da fome e consequentemente da desnutrição na população.
A fome, disse o médico “está a matar muita gente com uma desnutrição que vai de ligeira à severa”.
“Nós conversámos com muitas famílias que apresentavam um estado clínico degradado, caquético”, reforçou.
A pesquisa realizada pelo Projecto Saúde Comunitária deu lugar a um documentário sobre a desnutrição em Angola que surge em resposta aos pronunciamentos das autoridades angolanas segundo as quais não existe fome no país.
O objectivo, disseram os autores do projecto, é consciencializar o governo sobre a necessidade de maior atenção à população que padece desta enfermidade.
O estudo abrangeu as províncias de Luanda, Malanje, Cuanza Norte, Cuanza Sul, Cuando Cubango, Luanda Norte, Huíla, Uíge e Moxico.
Fernando Sebastião afirmou por outro lado que um outro estudo está a ser preparado para apresentar as consequências da desnutrição para o sector da educação no território angolano.
“Constatamos que muitas famílias com este problema estão fora do sistema de enino, porque passam fome e ficam sem condições físicas e emocionais para se deslocarem grandes distâncias e terem acesso às aulas”, disse
Fernando Sebastião disse que “ultimamente o governo virou os olhos simplesmente ao tratamento da Covid-19, esqueceu-se de outras enfermidades que por sinal são as que mais causam o índice de morbi-mortalidade no país”.
“Então este é um dos objectivos da produção deste documentário: Dar sustentabilidade clínica aos estudos que fizemos de modos a chamar atenção às autoridades que nos governam para estes problemas cuja capacidade de resolução ultrapassa os médicos membros deste projecto”, acrescentou.