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Fogo cruzado em Cabo Delgado deixa nova onda de deslocados


Vista aérea do Bairro Carioca em Pemba, Cabo Delgado
Vista aérea do Bairro Carioca em Pemba, Cabo Delgado

Uma série de contra-ofensivas dos insurgentes jihadistas, que voltaram a escalar e a incendiar palhotas desde segunda-feira, 11, em aldeias dos distritos de Mocímboa da Praia e Macomia, na província moçambicana de Cabo Delgado, reabriram vagas de deslocados, que temem por represálias dos insurgentes, disseram à VOA fontes locais.

As Forças de Defesa e Segurança (FDS) responderam com uma ofensiva que, segundo o ministro do Interior, matou 50 atacantes.

Parte da população que fugiu dos anteriores ataques de captura aos distritos tinha regressado às aldeias depois do aparente conforto após a reocupação pelas FDA, apoiadas por um grupo privado de militares sul-africanos, das áreas largamente atingidas pela revolta islâmica.

“Alguns ataques dos al-Shaabab são claramente de represálias, e agora é o nosso maior medo. Medo de sermos sacrificados”, disse à VOA, Altifo Amade, um morador de Quissanga.

Ele e outros continuavam até o final da tarde desta quinta-feira, 14, escondidos na mata após fugirem de confrontos hoje entre os insurgentes e as forças de defesa e segurança.

Ofensivo do exército

Entretanto, também hoje, o ministro do interior, Amade Miquidade, disse em Maputo que em 17 ataques de insurgentes, entre os dias 3 e 14 de maio, 11 aldeias foram destruídas, 16 civis raptados e outros 14 estão dados como desaparecidos, alem da sabotagem de torres de energia elétrica e linha de telecomunicações ao longo da N380, que liga os distritos de Macomia e Mocímboa da praia, a importante estrada que liga o país a Tanzânia.

Numa conferência de imprensa, sem direito a perguntas, Miquidade acrescentou que o grupo de insurgentes atacou a aldeia de Litingina (Nangade) a 3 maio.

Insurgência em Moçambique: Cabo Delgado está em guerra há dois anos
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No dia seguinda, a 4 de maio, atacou a aldeia de Cagengue (Mahate) e Uló (Mocímboa da Praia), enquanto no dia 6 de o grupo emboscou uma viatura civil em Meluco e atacou a aldeia de Nangololo (Muidumbe).

No dia 9 de maio foi atacada a aldeia Tapare (Bilibiza), no dia 11 os insurgentes atacaram em simultâneo as aldeias de Litingina e Ngangolo (Nangade) e no mesmo dia as aldeias de Miangaleua e Auasse (Macomia).

Miquidade revelou ainda que os insurgentes escalaram no dia 12 de maio a aldeia de Nkoko, a 17 quilómetros de Macomia, e no dia 13 as aldeias de Ntote e Diaca (Mueda), “o que demonstra uma aparente coordenação dos eventos”.

Mais de dois anos de ataques

O ministro acrescentou que a 13 de maio as forças da defesa e segurança abateram 48 insurgentes num confronto nas aldeias de Ntchinda a Mbau, enquanto que na madrugada de hoje, 14, outros 8 insurgentes foram abatidos na fracassada tentativa de ataque a Quissanga.

Os primeiros ataques aconteceram em outubro de 2017, na altura atribuídos a um grupo criado na província chamado de al-shabab.

Com o passar do tempo e uma ausência de resposta musculada das autoridades, os ataques intensificaram, com algumas fontes a apontarem para cerca de 900 mortos e centenas de desalojados.

Apoio externo

Em Agosto de 2019, forças do Grupo Wagner, da Rússia, chegaram a Moçambique para ajudar a combater os islamitas, mas acredita-se que depois de sofrer inúmeras baixas tenham saído em março deste ano.

As Forças de Defesa e Segurança têm agora com o apoio de um contingente privado de sul-africanos.

Na sua edição de hoje, o jornal eletrónico Carta de Moçambique, escreve que os sul-africanos suspenderam as suas incursões nos campos de batalha porque não têm sido pagos, abrindo brechas para contra-ofensivas dos jihadistas.

O jornalista, investigador e escritor português Nuno Rogeiro diz que os atacantes pertencem ao Daesh, da Província Central de África, ao abordar a situação em Cabo Delgado na obra “O Cabo do Medo – Daesh em Moçambique”, a ser lançado a 3 de junho.

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