O Presidente Moçambique mostra-se surpreendido com a posição do Governo da França que, num comunicado, diz aos seus cidadãos que “é fortemente recomendado não viajar para a província de Cabo Delgado, bem como viajar nas estradas que ligam as localidades daquela província afetadas pelo terrorismo”.
Em reação, Filipe Nyusi diz que esperava que o comunicado fosse no sentido de apoio ao país para o combate do terrorismo.
O jornalista Luis Nachote considera que esse posicionamento é revelador que o regresso das operações da TotalEnerges está adiado, enquanto para o bispo da Igreja Católica em Pemba, Dom António Juliasse, a nova onda de ataques terroristas causa apreensão, porque há falta de paz naquela região do país.
“Deve haver algum motivo qualquer para seja feito um comunicado, como amigos nossos esperávamos que dissessem que face ao que está a acontecer nós vamos apoiar, trabalhar juntos para combatermos isto mais aquilo”, disse Felipe Nyusi ao reagir a este posicionamento do Governo francês.
O jornalista e analista político Luís Nhachote considera que Filipe Nyusi foi apanhado de surpresa por esta comunicação e acrescenta que este tipo de anúncio não segue um protocolo diplomático, mas é revelador que a situação em Cabo Delgado é crítica.
“Não sei se este tipo de avisos requererem protocolos em que um Estado avisa o outro, Moçambique também tem em algumas situações aconselhado os seus cidadãos a não irem à África do Sul”, aponta Nhachote para quem “a situação de Cabo Delgado não está boa, isso é um fato".
"Parece-se que este espanto do Presidente da República faz parte das expetativas frustradas, visto que a França acaba de passar um certificado de incompetência a para quem estava expetante que o dinheiro da Total fosse chorar tão já numa aparente calmia, acho que é melhor começar a colocar binóculos para ver esse dinheiro”, acrescenta aquele analista política.
Nhachote vai mais longe e afirma que o comunicado da França poderá significar o retardar da retoma das operações da petrolífera TotalEnergies em Cabo Delgado.
“Dada a última escalada de violência em Cabo Delgado em que o próprio mapa mostra que dos 17 distritos da província apenas quatro não tiveram situação de violência, é um indicador muito grande de que as coisas não estão nada boas, não estão nada saudáveis nesta região", conclui.
"Não há paz na região"
Por outro lado, para Dom António Juliasse, bispo da Igreja Católica em Pemba, a nova onda de ataques terroristas causa apreensão porque há falta de paz naquela região do país.
“Aqueles que falam que Moçambique está em paz só Cabo Delgado é que tem problemas excluem a região do país, mas dizer que Moçambique não está em paz, Moçambique está em guerra, é o que nós estamos a ver e as pessoas estão a morrer”, reforça Dom Juliasse.
A Igreja Católica tem-se mostrado preocupada com a situação humanitária provocada pelos ataques das últimas semanas.
No domingo, 18, o Papa Francisco a apelou ao apoio humanitário para as populações daquela província que tem registado novos refugiados internos, por conta dos ataques dos terroristas.
“A Igreja está a acompanhar a situação do sofrimento do povo com muita apreensão, mesmo ontem (domingo) muita gente esteve a chegar para a vila de Chiure e a nossa preocupação é agora ver como colaborar para estas pessoas tenham o mínimo”, revela o bispo de Pemba.
A província de Cabo Delgado tem sido alvo de ataques de insurgentes, que se dizem ligados do grupo Estado Islâmico, desde outubro de 2017 e nesse período mais de quatro mil pessoas foram mortas e cerca de um milhão foram deslocadas das suas zonas de residência.
A Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC) enviou uma missão militar para ajudar as Forças de Defesa e Segurança de Moçambique a combaterem o terrorismo, juntamente com um contingente do Rwanda.
Entretanto, essa força, a SAMIM, deve deixar o país em Julho.
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