A falta de uma indústria de produção de sementes híbridas é apontada pelo Instituto de Investigação Agronómica de Angola como obstáculo no percurso para a autossuficiência alimentar.
Ainda que menos visível quando analisada à escassez de fertilizantes e o quase nulo acesso ao crédito para a agricultura familia, o problema é sentido pelos agricultores que dizem ser um sério entrave à sua produção
Relatos de quem se encontra no campo, obtidos pela VOA na sequência do aviso lançado na última semana, apontam mesmo para a inexistência de sementes em plena época agrícola.
O milho, base da alimentação dos angolanos, serviu de referência para o apelo, com a Instituto de Investigação Agronómica a referir que as sementes ideais são as que garantem uma colheita de 10 toneladas por cada hectare, quase o quíntuplo do que existe no momento.
Actualmente, seja para que variedade for, saltam à vista queixas de escassez, conforme o relato do líder de uma cooperativa de produtores, Chico António, a partir da comuna do Dombe Grande, em Benguela.
“A importação de sementes, em muitos casos, é um problema sério, até aqui não temos nem a semente híbrida nem a melhorada”, disse.
“Isso condiciona, não se faz nada, e a semente tem de vir da Zâmbia, é brincadeira, temos de pensar nisso”, salientou o produtor.
Em consequência deste cenário, há alteração de hábitos, segundo um outro produtor, José Cabral Sande, que começa por falar do factor qualidade
“Estamos a consumir sementes geneticamente modificadas, e não sabemos até que ponto elas podem afectar não só a nossa saúde como as próximas produções”, comentaou acrescentando que “como há ausência de sementes [de milho] estão a distribuir em várias regiões sementes de massambala e massango, aquelas pequeninas que damos aos pássaros, e essa verborreia do trigo e arroz é porque falhou a política de produção de sementes”.
O director-geral do Instituto de Investigação Agrónoma, João Ferreira Neto, afirmou em Benguela, na última semana, que Angola precisa de avançar para uma indústria forte, apostando em quadros capazes e mais orçamento
“Num passado muito recente todo o mundo importava semente, tudo era semente, e no limite era grão de má qualidade, prejudicando as produções dos nossos camponeses, dos nossos empresários. Estamos a falar principalmente do milho, isto porque para outro tipo as comunidades aceitam”, disse o técnico, ciente de que “temos um grande caminho a percorrer”
“Ainda não temos autossuficiência, desta forma não alcançamos os objectivos. Não teremos um grande serviço de sementes sem quadros à altura e com um orçamento praticamente exíguo”, vincou o investigador
Dados da consultora internacional Deloitte, avançados recentemente, indicam que Angola tem um défice anual de 9 milhões de toneladas de produtos da cesta básica, com realce justamente para o feijão, soja, trigo e o arroz.
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