O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, ordenou, esta sexta-feira, 11, o retorno ao sistema anterior de pagamento de salários das Forças de Defesa e Segurança (FDS), na sequência da reclamação feita pelo Comandante-Geral da Policia, pelo facto de os agentes policiais não receberem os seus ordenados hà pelo menos dois meses.
Analistas dizem que o problema não afecta apenas as FDS, mas todos os outros sectores do Estado, e que esta decisão representa um retrocesso relativamente a avanços registados na aplicação da Tabela Salarial Única, incluindo a deteção de centenas de funcionários fantasmas.
Durante muito tempo, Filipe Nyusi evitou falar dos problemas resultantes da aplicação da nova tabela salarial, mas acabou quebrando o silencio, depois de o chefe da polícia, Bernardino Rafael, ter vindo a terreiro reconhecer que existe um mal-estar na corporação decorrente dos salários em atraso.
Prioridade
Nyusi disse que os colaboradores do Governo a diversos níveis devem tomar a matéria de regularização dos salários como prioridade, sacrificando assuntos adiáveis, porque não se deve adiar o que é sagrado, o salário.
Referiu que ‘’para que o processo de correção das anomalias seja célere e mais harmonizado, o Primeiro-Ministro vai, urgentemente, orientar um encontro de trabalho com os intervenientes a nível central, tendo como base a aplicabilidade da plataforma desenvolvida para o processamento de salários para as Forças de Defesa e Segurança’’.
O estadista moçambicano avançou que enquanto a plataforma de salários para os funcionários das áreas especiais não estiver ainda concluída, os remanescentes membros das FDS deverão ser pagos usando o processo anterior a partir da próxima segunda-feira, 14.
‘’Finalmente, o Chefe de Estado reconheceu que há alguma incompetência e, se calhar, falta de vontade, de desenvolver um sistema de pagamento de salários capaz de resolver muitas situações, entre as quais o facto de muitos funcionários fantasmas estarem a beneficiar de fundos de Estado há bastante tempo’’, afirmou o analista político Firmino Cossa.
"Há muita coisa em jogo neste processo’’, realçou.
Fragilidades
Por seu turno, o analista político Rui Mate critica a falta de comunicação entre as diferentes instituições do Estado sobre esta matéria, sublinhando que o assunto podia ter sido resolvido sem a necessidade de o Comandante-Geral da Policia ir à comunicação social para reclamar.
Para o aquele analista, quando o Presidente da República ordena o retorno ao sistema anterior, significa que ele está a reconhecer que o novo modelo tem problemas, que não afectam apenas as FDS, mas todos os outros sectores da administração pública.
Ele questiona: ‘’Será que não existe capacidade humana e técnica para, a breve trecho, resolver estes problemas de transição de um sistema para outro, porque se estamos a falar de um novo modelo, percebe-se que o anterior tinha fragilidades, e, voltando para o antigo sistema não será um retrocesso?’’
Mate considera que pode se estar a usar a transição de um sistema para outro para justificar um problema mais grave, que é a falta de liquidez para pagar salários, porque grande parte do trabalho já foi feito relativamente à aplicação da nova tabela salarial.
Já o analista José Bila não descarta a possibilidade de entre as pessoas responsáveis pela aplicação da nova tabela de salários haver quem pretenda sabotar o sistema, para perpetuar um esquema de corrupção, através do pagamento a funcionários que não existem.
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