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EUA: Pobreza infantil aumenta com o fim dos programas de ajuda durante a pandemia


Sombras de um homem e uma criança projetadas numa parede em Davie, Flórida, 9 outubro 2020.
Sombras de um homem e uma criança projetadas numa parede em Davie, Flórida, 9 outubro 2020.

"Há mais 5,2 milhões de crianças que são agora pobres, mas não o eram no ano passado”, diz Aileen Carr, diretora executiva interina do Centro sobre Pobreza e Desigualdade da Faculdade de Direito de Georgetown.

A pobreza nos Estados Unidos aumentou dramaticamente em 2022, especialmente entre as crianças, depois de os programas de apoio social implementados durante o pandemia da Covid-19 terem terminado.

Dados divulgados nesta semana pelo Escritório do Censo indicam que 12,4% dos americanos viviam na pobreza em 2022, contra apenas 7,8% em 2021.

O aumento foi ainda mais acentuado entre as crianças, com 12,4% a viver na pobreza no ano passado, em comparação com 5,2% em 2021.


"É devastador”, afirma Aileen Carr, diretora executiva interina do Centro para Pobreza e Desigualdade, da Faculdade de Direito de Georgetown, em Washington.

Ela acrescenta que “este é o pior [aumento] que alguma vez vimos, especialmente no que diz respeito à pobreza infantil" e sublinha que "é difícil calcular o sofrimento humano que estes números representam".

Os dados foram divulgados como parte da Medida Suplementar de Pobreza (SPM, nas siglas em inglês) que o Governo calcula separadamente dos números oficiais da pobreza.

O SPM considera a quantidade de dinheiro que as famílias recebem de programas de benefícios governamentais como as mudanças no custo de vida em diferentes comunidades.

A média oficial de rendimento anual do nível de pobreza para uma família com dois adultos e duas crianças era de 29.678 dólares em 2022, no entanto, para fornecer uma imagem mais sutil, o SPM definiu a média para essa mesma família de quatro pessoas, presumindo que vivia em moradias alugadas, em 34.518 dólares.

Fim dos programas

Durante o ano de 2021, o Governo federal apoiou milhões de americanos com uma variedade de programas de ajuda, entre eles o Crédito Fiscal Infantil, que durante um ano proporcionou aos pais com baixo rendimento um subsídio mensal com base no número de filhos do seu agregado familiar.

Uma extensão do Crédito Fiscal Infantil foi originalmente integrada na Lei Build Back Better (Reconstruir melhor, em poruguês), um projeto que continha as prioridades políticas do Presidente Joe Biden, mas a versão reduzida que acabou por ser aprovada como Lei de Redução da Inflação em 2022 não estendeu o programa.

Famílias lutam contra pobreza

O fato de a pobreza ter aumentado a partir de 2022 não é novidade para as pessoas que veem todos os dias os efeitos da privação económica nos Estados Unidos.

Judy Estey, diretora executiva da The Platform of Hope (Plataforma da Esperança, em português), uma organização com sede em Washington, diz “trabalhar principalmente com famílias negras e pardas que têm sido historicamente desfavorecidas economicamente”.

Em conversa com a Voz da América, Estey afirma que a retirada dos programas de apoio da era da pandemia, particularmente do Crédito Fiscal Infantil, piorou ainda mais as circunstâncias já difíceis de muitas famílias.

“Temos observado famílias que já enfrentavam muitas barreiras e desafios lutarem ainda mais”, acrescenta.

Embora a ajuda durante a pandemia tenha aumentado o rendimento das famílias em cerca de 12%, a Plataforma da Esperança registou uma melhoria de 24% dos níveis de endividamento dos clientes e um aumento de 21% das suas poupanças.

Defensores frustrados

Os defensores do aumento dos gastos em programas sociais, como Aileen Carr, estão particularmente frustrados com o fim do Crédito Fiscal Infantil que, para eles, foi um sucesso mensurável.

“Esta é uma solução política tão clara e direta que funciona”, sublinha Judy Estey.

“Fizemos uma escolha. Agora há mais 5,2 milhões de crianças que são agora pobres, mas não o eram no ano passado”, sublinhou.

Corrida contra o tempo

Depois da divulgação desses dados pelo Escritório do Censo, o Congresso registou um enorme movimento com os legisladores democratas a reiterarem o seu compromisso em retomar o Crédito Fiscal Infantil, tão cedo quanto possível.

O senador Ron Wyden, presidente do Comité de Finanças, que prepara a legislação de impostos, disse garantir a expansão do programa no pacote fiscal a ser aprovado no fim de ano.

A representante Rosa DeLauro, a principal democrata no Comité de Dotações da Câmara, disse em conferência de imprensa na quarta-feira, 13, que o crédito fiscal deve ser restaurado porque "se paga por si mesmo".

No entanto, parece improvável que a Câmara dos Representantes, controlada pelos republicanos, reintroduza o programa.

Reação da Casa Branca

Do lado da Administração Biden, o presidente do Conselho de Consultores Económicos afirmou ontem que o Governo apoia a reintrodução do Crédito Fiscal Infantil e que vai lutar para a sua aprovação.

“Pretendemos continuar não só a lutar pelo reforço do Crédito Fiscal Infantil, mas também a fazê-lo de forma fiscalmente responsável”, disse Jared Bernstein em conferência de imprensa.

Ele destacou que a medida faz parte da proposta do orçamento do Presidente Biden e que será paga com o aumento da parcela dos impostos pagos pelos americanos mais ricos.

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