Os Estados Unidos apertaram as sanções à companhia de diamantes russa Alrosa que poderão causar mais problemas à indústria de diamantes de Angola.
A companhia russa é co-propietária da mina de Catoca (juntamente com a Endiama) e tem igualmente participação no projecto mineiro do Luaxi.
No final da semana passada, o Departamento do Tesouro americano colocou a Alrosa na sua lista de “Specially Designated Nationals”, o que significa que, a partir de agora, companhias americanas estão proibidas de ter qualquer negócio com a companhia russa que deixa também de poder efectuar qualquer transacção em dólares.
A lista confirma também que todos os bens da Alrosa nos Estados Unidos estão congelados.
Na primeira fase, as sanções americanas aplicadas a 24 de Fevereiro à Russia abrangeram também a empresa Alrosa que assim se viu privada de aceder a capital estrangeiro, participar em transacções financeiras e ter os seus bens em países ocidentais congelados.
Aas sanções proibíam a importação de diamantes da Rússia que chega a 28% da produção global, mas quase 90% dos diamantes de Angola são exportados para o Dubai pelo que a venda desses diamantes, depois de polidos, para o Dubai não estavam abrangidos.
Mas agora surgem avisos que mesmo esses diamantes poderão estar abrangidos, embora permaneça por esclarecer como identificar a proveniência original dos diamantes exportados pelo Dubai.
Sara Yood, do Comité de Vigilância dos Joalheiros (Jewelers Vigilance Committee) disse ao portal JCK que se especializa na indústria de diamantes, que uma companhia americana que tenha relações directas com uma companhia estrangeira “e essa companhia compra da Alrosa então o melhor é consultar um advogado”.
A Alrosa controla pelo menos 32,8% da mina de diamantes da Catoca, sendo juntamente com a Endiama (também com 32,8%) a maior accionista desse empreendimento na quarta maior mina de diamantes do mundo.
A JCK diz que a Alrosa controla de facto 40% do empreendimento.
As novas sanções aplicam-se também a qualquer entidade em que a Alrosa tenha 50% das acções o que, portanto, não abrange directamente a Catoca, mas Yood disse à JCK que, até haver esclarecimentos, comprar qualquer produto da Alrosa mesmo que polidos noutras partes que não a Rússia deve ser considerado algo de “extremo risco”.
“Estas restrições aplicam-se também aos bancos e por isso é provável que o seu banco irá contacta-lo e perguntar se tem relações com a Alrosa ou mesmo se compra produtos que tiveram a sua origem na Alrosa”, acrescentou.
Autoridades angolanas minimzam problema
Antes das revelações sobre as novas medidas contra a Alrosa, as autoriades angolanas tinham reconhecido algumas dificuldades mas minimizaram o problema.
O presidente da estatal de diamantes de Angola Endiama, Ganga Júnior, admitiu ser difícil a situação actual do sector diamantífero, embora não apenas para empresa porque o mercado mundial verifica actualmente pouca procura.
O responsável da estatal angolana reconheceu algumas dificuldades nas operações bancárias com salários de funcionários russos, na transferência de dinheiro para a Rússia mas garantiu estarem a arranjar outros caminhos sem os especificar.
Especialistas do sector ouvidos pela VOA entendem que cedo ou tarde os efeitos vão se fazer sentir sobre o sector diamantífero do país.
Baptista Tunganeno, especialistas em diamantes, trabalhou largos anos para a estatal de diamantes de Angola e considera que "tarde ou cedo a produção de diamantes vai ficar afectada, devido a estas sanções à Alrosa”.
“Podemos não as sentir já, mas as dores depois virão porque a ferida só dói depois de secar", acrescenta.
José Severino, presidente da Associação Industrial Angolana, tem um entendimento diferente, afirmando que "esta é uma questão que os políticos deverão medir eventuais consequências que podem advir para os projectos angolanos mas estou convicto que a Alrosa neste momento já não é investidor como era no início de modo que o processo fica mais facilitado”.
“Por isso não vejo grandes constrangimentos para o nosso processo de diamantes com estas sanções", acrescenta Severino.
O economista Sapalo António pensa que por razões históricas e políticas Angola vai continuar a tentar ter ligações com a Alrosa.
"Do ponto de vista económico e financeiro no segmento destas sanções e como não será possível a transferência de dinheiro directamente a Rússia, Angola como amigo do regime russo vai encontrar outras formas de continuar a mandar os proventos do diamante para a Rússia”, disse, acrescdentando que é por isso que os dirigentes angolanos estão a minimizar os efeitos destas sanções".