Analistas políticos moçambicanos divergem relativamente à ideia de se adotar uma legislação de última hora para estabelecer um estatuto especial para o líder da Renamo, signatária do Acordo de Roma e não necessariamente para Ossufo Momade, depois do partido ter perdido o estatuto de líder da oposição.
Alguns afirmam que tal pretensão visa acomodar a liderança do partido que agora está na terceira posição no Parlamento, enquanto outros consideram ser preciso reconhecer o papel do antigo movimento guerrilheiro na democratização do país.
Ao abrigo dos vários acordos assinados entre o Governo e a Renamo foi estabelecido um estatuto especial para o líder do segundo partido mais votado nas eleições.
Isso teve em conta o facto de que vários estudos da ciência política nunca perspetivaram que a Renamo pudesse ficar na terceira posição.
Esta foi a razão pela qual nunca se pensou num estatuto especial para o líder da Renamo, independentemente da posição em que se encontre, sendo por isso que, de acordo com o analista político Ivan Mausse, pretende-se agora uma solução legal para Ossufo Momade, e por essa via minimizar o impacto de ter sido o terceiro candidato mais votado nas recentes eleições.
Mausse considera perigosa esta forma de acomodar Ossufo Momade ou quem venha futuramente assumir a liderança da Renamo, "porque pode acontecer que a Renamo seja o segundo partido mais votado em próximas eleições, fazendo com que beneficie duplamente desse estatuto especial".
"Mas mais perigoso ainda é nós acreditarmos que a Renamo acabou, quando na verdade ainda tem potencial para paralisar o país’’, diz o analista político Francisco Matsinhe, defendendo a necessidade de se encontrar forma de acomodar a Renamo.
Contudo, para o analista político Fernando Lima, as argumentações para se adotar um estatuto especial para o líder da Renamo são controversas, realçando que "ninguém tem um estatuto decorrente de algo que perdeu; em democracia ganha-se e perde-se".
Entretanto, o porta-voz da Renamo, Marcial Macome, declinou-se a fazer qualquer comentário sobre esta ideia que poderá ser submetida a debate parlamentar nos próximos tempos, enquanto Pedro Rafael, da Frelimo, diz que "se isso puder contribuir para um país mais estável, e, sobretudo tendo em conta o papel da Renamo no processo de democratização do país, é pacífico; é necessário acarinhar este importante actor político".
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