O oficial das Forças Armadas Angolanas (FAA) ao serviço da Presidência da República, major Pedro Lussaty, foi apanhado, na semana passada, a sair do país com 10 milhões de dólares e quatro milhões de euros.
Ao ser detido no Aeroporto Internacional 4 de Fevereiro, em Luanda, o também chefe das Finanças da banda musical da Presidência da República, não justificou a origem do dinheiro.
Uma fonte da Casa de Segurança da Presidência da República revelou à VOA que a operação integra "um esquema antigo em que estão envolvidos muitas altas patentes" das FAA.
Segundo a nossa fonte, o major Pedro Lussaty vinha a ser seguido após um negócio com o general Bento Kangamba, quem lhe terá vendido uma residência na Espanha.
Quando as autoridades espanholas alertaram as suas congéneres angolanas sobre a existência de um novo dono da referida residência, o major Lussaty foi notificado três vezes mas não compareceu, e, de lá para cá, as autoridades judiciais passaram a segui-lo e "fizeram o devido levantamento da sua ficha em Luanda".
Questionado como o referido montante é colocado fora do sistema bancário, a nossa fonte conta que, através do saco azul da Presidência, com o qual se fazem diversos pagamentos sem necessidade de justificativos, os militares envolvidos conseguem manejar avultadas somas de dinheiro fora do sistema bancário.
No ano passado, ainda segundo a fonte que temos vindo a citar, "vários oficiais pertencentes a este esquema foram detidos e aguardam por julgamento".
Procuradoria Geral da República confirma
No final da noite desta segunda-feira, 24, em nota, a Procuradoria-Geral da República (PGR) informou, em comunicado, ter aberto um processo-crime "em que estão envolvidos oficiais das Forças Armadas Angolanas afectos à Casa de Segurança do Presidente da República, por suspeita de cometimento dos crimes de peculato, retenção de moeda, associação criminosa e outros".
A PGR acrescentou que “foram apreendidos valores monetários em dinheiro sonante, guardados em caixas e malas, na ordem de milhões, em dólares norte-americanos, em euros e em kwanzas, bem como residências e viaturas".
Leitura de juristas
A detenção de Pedro Lussaty despoletou o debate sobre a segurança aeroportuária no país.
Para o jurista Agostinho Canando, o sistema de vigilância no Aeroporto Internacional 4 de Fevereiro para a saída de altas somas de dinheiro, funciona para o grupo de dirigentes ligados ao antigo Presidente José Eduardo dos Santos, enquanto a nova elite continua a beneficiar-se do esquema.
“O sistema está corrompido”, garante Canando.
O também jurista Manuel Pinheiro entende que “várias pessoas, entidades, saem com somas avultadas de dinheiro e isso é sabido”.
Muitas vezes, acrescenta Pinheiro, “o dinheiro é declarado como mercadoria e passa normalmente, aqui também entram pessoas com somas avultadas de dinheiro, mas nunca ouvimos que foi apanhado alguém, ouvimos mais daqueles que estão a levar” para o exterior.
Aquele jurista ressalta, no entanto, que o major Lussaty goza de presunção de inocência até o processo estar concluído.