A saúde mental começa a preencher a agenda dos países e a Organização Mundial da Saúde tem chamado a atenção dos governos para considerar as doenças mentais um problema de saúde pública.
Na esteira da comemoração do sétimo aniversario da Fundação da Ordem dos Psicólogos de Angola, aqueles profissionais dizem que a situação é preocupante e alerta que se não for feito nada o futuro pode ser pior.
Há mais de 40 anos a exercer a profissão, a psicóloga Maria de Encarnacão Pimenta diz que a situação da sanidade mental em Angola é muito preocupante e que é um problema de saúde pública, sobretudo nas crianças, adolescentes e jovens que são bastante vulneráveis.
“Há um elevado nível de consumo de álcool, drogas pesadas, uma grande promoção da prostituição sobretudo a infantil, o ócio, o imediatismo, o consumismo, bases muito fracas da aprendizagem e, como consequência, se o Estado não fizer já algo, nos próximos 10 ou 15 anos, 50 por cento da população jovem vai estar na cadeia”, diz Pimenta.
Nas cadeias, o número da população carceraria é preocupante, a reabilitação mental do recluso e a sua inserção na sociedade édifícil porque o racio entre os presos e o número de profissionais de saúde mental nas prisões é grande, acrescenta o psicólogo forense Fernandes Manuel.
"Nós temos 126 reclusos para um psicólogo, o que sobrecarrega, e de que maneira, o trabalho do psicólogo", acrescenta Manuel, lembrando que a construção de prisões não vai resolver o problema da criminalidade.
"A prevenção do crime deve começar em casa, a educação na família que é parte integrante do aspecto preventivo e logo a seguir a escola, depois as instituições do Estado”, defende o o psicólogo como forma de evitar os crimes e a superlotação das prisões.
Antónia de Sousa, psiquiatra e directora do Hospital Psiquiátrico de Luanda reitera que o racio entre pacientes e médicos não é suficiente.
“O número de profissionais de saúde mental em todo país é ínfimo, no hospital temos 15 psiquiatras e 13 psicólogos, é um número baixoquando diariamente acorrem ao nosso hospital de 90 a 100 pacientes", afirmou Sousa.
Os casos de patologias mais frequentes no hospital são psicose sintomática causadas por malária, transtornos por consumo de substâncias psico-activas por parte dos jovens, depressão, pessoas com tentativa de suicídio e homicídio e as epilepsias.
No passado dia 7, a Ordem dos Psicólogos de Angola celebrou o seu sétimo aniversário.
A propósito, o bastonário Carlinhos Zassala destacou que “os psicólogos são marginalizados, o desemprego da juventude por exemplo é uma questão que os psicólogos podem ajudar a tratar mas nunca somos chamados, a questão da criminalidade sobretudo nas grandes cidades, os psicologos podem ajudar a tratar mas infelizmente não somos tidos nem achados”, e lamentou que “o casamento entre os detentores do poder e os profissionais de saúde mental nunca se concretizou".