Um crescente número de pessoas afetadas pela fome está a pedir ajuda nas ruas da capital da província angolana no Namibe.
Com o isolamento imposto pelo estado de emergência no seu terceiro período aumenta o desespero com muitas famílias sem nada para comerem.
Os gritos por socorro são cada vez mais fortes.
“A fome afetou a minha vida, sou pai de oito famílias, pessoas alheias, inocentes e as pessoas dizem que devido à quarentena a pessoa não pode sair de casa. Eu caí duas vezes pelo caminho e hoje voltei a cair devido à fome, desde sábado que não como”, disse na segunda-feira, 27, António Guarda, antigo militar das extintas FAPLA, braço armado do MPLA, e que pede ajuda em alimentação para assegurar a vida dos filhos.
António Guarda Pacheco, pai de quatro filhos, pediu que “todos aqueles que têm a palavra de Deus no coração”, compreendam as circunstâncias do seu sofrimento.
“O coronavírus mata, mas a fome também mata, quando inflamam os teus pés, estás a caminhar para a morte”, explicou Pacheco, quem justifica assim por que está na rua a pedir ajuda para dar de comer aos filhos.
“As pessoas no Namibe estão a sofrer com a fome, eu devo ser a pessoa que mais sofro”, reiterou o ancião de 72 anos de idade.
“Já caí e fui levada para o hospital por irmãs da igreja devido à fome”, relatou Madalena Tchimuco, de 73 anos de idade, que diz preferir morrer de pé “batendo às portas de pessoas de boa fé para comer do que morrer sentada”.
Joaquina Cassova, mãe de seis filhos, sofre de epilepsia e revelou ter recorrido até às autoridades.
“Já fui ao MINARS e nem uma gota de água me deram”, lamentou Cassova, quem diz estar a sofrer muito
Domingos Vitorino Ndonguessa, soba das mangueiras, região da Serra da Leba, alertou que o coronavírus mata, “mas a fome também vai matar muita gente”, sobretudo naquela localidade.
“O Governo deve implementar com urgência um programa de emergência para salvar vidas de pessoas que se encontram na iminência de morrer à fome”, pediu o soba Ndonguessa.
Às 12 horas, período em que, tradicionalmente, as famílias angolanas almoçam, é o momento em que estes chefes de famílias desprotegidas batem à porta para pedir ajuda.
E o número não para de aumentar.