A falta de energia, água e a excessivo controlo da economia pelo estado são os factores que mais obstáculos criam ao desenvolvimento económico de Angola e que podem dificultar a diversificação pretendida pelo governo angolano.
O Ministro de Estado e da Coordenação Económica, Manuel Nunes Júnior, disse que é objectivo do governo edificar em Angola uma economia forte e sustentável, por conseguinte menos dependente do petróleo.
Para o economista Josué Chilundulo, o maior cancro da economia angolana é a sua excessiva institucionalização, a par da queda da produção do petróleo.
“O segundo maior cancro é o abocanhar da economia pelo Estado. A agricultura está excessivamente institucionalizada, a indústria está excessivamente institucionalizada”, referiu.
A construção de uma economia forte pressupõe o pleno funcionamento das indústrias. Um funcionamento que depende da quantidade de energia produzida e distribuída. É neste particular onde reside o maior problema da economia de Angola e que condiciona a sua sustentabilidade. Uma situação que paralisa o desenvolvimento do sector industrial, por um lado, por outro, resulta em consequências sociais desastrosas que inviabilizam o bem-estar dos cidadãos.
A deficiente distribuição da energia eléctrica e o difícil acesso à água potável são problemas básicos que enfermam a sociedade angolana cuja economia o Governo pretende que este ano seja equilibrada.
Desta dificuldade, ninguém é poupado, nem mesmo os habitantes das novas centralidades, construídas, segundo propaganda governativa, com os mais altos padrões de qualidade com objectivo de garantir o bem-estar dos cidadãos.
Nos distritos do Zango, município de Luanda, as torneiras não jorram água há meses. Os munícipes são obrigados a recorrer a fontes alternativas como caminhões cisternas que abastecem os tanques-reservatórios caseiros. Porém, a factura chega a ser muito alta: 22 mil kwanzas, que correspondem a cerca de 75 porcento do salário mínimo nacional, é o valor que se paga por 15 mil litros de água.
“É muito caro. Quem compra uma cisterna é quem tem possibilidades, para quem não pode é obrigado a comprar nos bidões que agora custam 50 a 100 kwanzas por cada 25 litros”, denunciou Iracelma Baltazar, professora de profissão, que se todos os dias se vê aflita com esta situação.
António João, funcionário público lamenta os valores exorbitantes cobrados em facturas de energia eléctrica, onde estão incluídas as taxas pela recolha de lixo. O munícipe do Cazenga apela que o governo tenha ouvidos para ouvir as lamentações do povo angolano.
“Há uma injustiça. Nós pagamos a água, a energia, o lixo…Pagamos tantos impostos que nos é imposto e este povo está a se tornar paupérrimo. Estes todos pagamentos não vão de acordo com o nosso salário”, lamentou.
Os problemas da distribuição de água e energia eléctrica em Angola são descritos como sendo um caos, por Pedro Vicente, estudante universitário, que ressalta o facto de a população ter de percorrer vários quilómetros para ter acesso ao líquido precioso.
O estudante universitário refere por outro lado que a energia eléctrica é um problema da máfia em Angola promovida por pessoas ligadas ao aparelho do Estado, mas que ao mesmo tempo são empresários. Empresários estes que detentores das empresas vendedoras dos aparelhos alternativos de produção de energia eléctrica para o funcionamento das indústrias e iluminação caseira, tais como os geradores.
“A máfia começa com o facto de os governantes serem os detentores de tudo: das empresas, dos armazéns, das importações dos equipamentos e produtos. É necessário que falte luz eléctrica para poderem vender os seus equipamentos geradores, porque se tiver luz eléctrica estes aparelhos não serão vendidos”, disse
O Governo entende que a electrificação do país é um processo que leva décadas e cheio de desafios que implicam custos financeiros elevados e bastante recursos humanos.
O Ministro da Energia e Águas, João Baptista Borges, garante que esforços têm sido desencadeados para que o quadro seja alterado, ressaltando que a situação no país já esteve pior.
“Em 2002 as infra-estruturas do país estavam praticamente destruídas. Nada funcionava, não tínhamos centrais de produção de energia a funcionar vivíamos de geradores com gastos enormes. As principais cidades do país eram abastecidas por combustível via aérea para sustentar os geradores que garantia energia eléctricas as instalações essenciais”, disse
O caminho percorrido, de acordo com o Ministro da Energia e Água, foi longo e com resultados actuais significativos, estando as principais cidades do país interligadas por um sistema eléctrico nacional.
Pedro Vicente discorda da ideia segundo a qual já há bastantes melhorias no quadro de distribuição de energia eléctrica em Angola. O estudante universitário aponta como exemplo a província de Malanje que tem 14 municípios, porem em apenas dois há energia eléctrica.
“O Governador de Malanje Norberto dos Santos “Kwata Kanawa”, numa conferência disse que o resto dos municípios não precisam ter luz eléctrica, por que não terá retorno devido ao elevado custo de transporte de energia e o nível de subdesenvolvimento dos municípios”, denunciou o estudante universitário.
Com inúmeras barragens e dezenas de rios em Angola, não se justifica a falta de distribuição e energia eléctrica e de água potável pelo que, medidas mais duras devem ser tomadas, diz Pedro Vicente.