Os antigos primeiros-ministros de Cabo Verde, José Maria Neves, e de Portugal, Francisco Pinto Balsemão, conversaram em 2017 sobre o futuro do mundo, a globalização, o populismo, as mudanças climáticas, os Estados-Nação e a emergência de Estados transnacionais, bem como o impacto das redes sociais nas sociedades actuais.
A conversa de então deu lugar ao livro “Um Futuro a Construir” em que aqueles políticos de áreas ideológicas diferentes traçam pontes confluentes nesses tempos atribulados e de muitas incertezas.
O antigo Chefe do Governo cabo-verdiano, que dirigiu um partido membro da Internacional Socialista e que se define como sendo um político de centro-esquerda, e o antigo primeiro-ministro português social-democrata, travam um diálogo inteligente sobre o ideário do civismo democrático que, de certa forma, converge-os, dizem os editores.
Na obra, entre outros aspectos, José Maria Neves sublinha a importância dos próprios partidos na intermediação entre a sociedade e a classe política, sem deixar de chamar a atenção ao enfraquecimento paulatino das instituições, entre elas os partidos políticos, que tendem ao esgotamento.
Francisco Pinto Balsemão, por seu lado, disserta muito sobre o que considera ser uma “lixeira gigantesca nas redes sociais e nos motores de busca”, cada vez mais explorada para “difusão de mentiras, meias verdades e factos alternativos”.
Em conversa com a VOA, o antigo primeiro-ministro cabo-verdiano considera que os decisores políticos têm um trabalho gigantesco frente ao divórcio entre os cidadãos e os políticos.
Para José Maria Neves, para fazer essa intermediação os partidos “têm de se reinventar”.
A globalização e o nacionalismo merecem da obra uma profunda análise.
Neves é de opinião que, “apesar do aumento da riqueza e da redução de alguma pobreza, muitos perderam com a globalização, devido à concentração de renda e aumento das desigualdades, o que provocou ressentimentos de grupos que ficaram prejudicados e que têm reivindicado políticas mais nacionalistas e proteccionistas, ao mesmo tempo que culpam imigrantes e outras minorias pelos problemas sociais”.
O caminho passa por encontrar “equilíbrios dessa globalização”
Para Neves, as “redes sociais estão a desconstruir os sistemas políticos e mecanismos tradicionais de relacionamento entre o Estado e a sociedade, bem como as diferentes instituições, corrompendo todo o sistema de comunicação”.
O agora professor universitário defende ser necessário criar antídotos para evitar um “infocalipse da comunicação”.
O livro “Um Futuro a Construir” foi lançado na passada sexta-feira, 23, em Lisboa e tem a chancela da editora Rosa Porcelana.
Ouça a entrevista do antigo primeiro-ministro de Cabo Verde na íntegra aqui: