A 23 de agosto o Zimbabué vai a eleições. Doze candidatos estão a concorrer à Presidência, mas a competição é essencialmente uma corrida entre o Presidente Emmerson Mnangagwa, 80 anos, e Nelson Chamisa, 45 anos.
Quem são eles?
Nascido em Harare, político experiente com décadas de ativismo, o líder da oposição do Zimbabué, Nelson Chamisa, de 45 anos, ainda é conhecido por muitos como "mukomana" ou "o jovem". Formado em teologia pela Universidade de Harare, já foi alvo de pelo menos duas tentativas de assassinato.
O apelido reflecte a diferença de idade entre o candidato presidencial e o seu principal adversário na votação de 23 de agosto - o atual Presidente Emmerson Mnangagwa, de 80 anos.
"Mukomana" é também utilizado para evitar pronunciar o nome do político em público, num país onde grupos de defesa dos direitos humanos afirmam que o seu rival desencadeou uma repressão brutal contra a dissidência.
Emmerson Mnangagwa o "crocodilo"
Emmerson Mnangagwa tornou-se o segundo Presidente do Zimbabué depois de ultrapassar o antigo governante Robert Mugabe com um golpe apoiado pelos militares em 2017 - e aos 80 anos não mostra sinais de querer reformar-se.
Apelidado de "O Crocodilo" devido à sua crueldade, Mnangagwa, que os analistas consideram mais autocrático do que o seu antecessor e sem o talento intelectual e a visão ideológica de Mugabe, está a tentar cimentar a sua liderança numa eleição que poucos esperam que seja livre e justa.
Ele herdou uma economia em colapso, marcada pela hiperinflação, desemprego e alegações de corrupção, os críticos afirmam Mnangagwa que tem procurado silenciar a dissidência e reprimir a oposição.
"É uma figura muito repressiva e autoritária", afirmou Brian Raftopoulos, um investigador político do Zimbabué.
O líder do CCC
Advogado e pastor de igreja, Nelson Chamisa lidera a Coligação de Cidadãos para a Mudança (CCC) - o único partido que tem alguma esperança real de derrubar a ZANU-PF, que detém o poder com mão de ferro desde a independência em 1980.
Ainda assim, as probabilidades estão contra ele.
Alguns comícios do CCC foram bloqueados, alguns dos seus membros foram detidos e atirados para a prisão e os receios de fraude eleitoral são generalizados.
Chamisa já viu tudo isto antes.
Tentativas de assassinato
O jovem de baixa estatura e bigode já foi detido várias vezes devido às suas actividades políticas.
Em 2007, Chamisa foi severamente espancado com cassetetes e uma barra de ferro e deixado a morrer. Passou cinco dias no hospital após o ataque, que foi amplamente atribuído a bandidos do partido no poder.
Em 2021, foi alvo daquilo a que chama um plano de assassinato, quando foram disparados tiros contra a sua caravana. Uma bala atravessou o banco traseiro esquerdo do seu carro, onde normalmente se senta.
"Tenho sorte em estar vivo", afirmou.
O atual Presidente zimbabweano também foi alvo de várias tentativas aparentes de assassinato, incluindo uma explosão num comício em 2018 que matou duas pessoas.
Em 2017, foi transportado de avião para a África do Sul para receber tratamento de emergência depois de ter comido gelado de uma empresa de lacticínios propriedade da sua arquirrival Grace Mugabe, que os seus aliados disseram estar envenenado.
Fuga para Moçambique
Mnangagwa foi nomeado Presidente depois de uma batalha para garantir o cargo mais alto à frente da esposa de Mugabe, Grace, que ele inicialmente parecia ter perdido.
Em 2017, Mugabe, então com 93 anos, demitiu Mnangagwa do cargo de vice-presidente, abrindo caminho para a primeira-dama.
Temendo pela sua vida, o veterano da linha dura fez uma fuga dramática através da fronteira para Moçambique.
O filho, que estava com ele, descreveu Mnangagwa sentado numa paragem de autocarro, com um fato empoeirado e sapatos esfarrapados, depois de uma caminhada nocturna pela montanha.
Não tinha quaisquer pertences, exceto uma pasta com dólares.
Mas a situação inverteu-se em poucas semanas quando os chefes militares lançaram uma breve tomada de poder e Mnangagwa emergiu como o seu sucessor escolhido.
Ego e sucesso
Chamisa juntou-se ao Movimento para a Mudança Democrática (MDC), na oposição, enquanto estudante, quando este foi fundado em 1999, e assumiu a sua direção após a morte do seu mentor, o líder do partido Morgan Tsvangirai, em 2018.
Nesse mesmo ano, Chamisa esteve perto de derrotar Mnangagwa numa eleição acirrada, a primeira realizada após a destituição do governante de longa data Robert Mugabe.
Contestou o resultado, mas perdeu em tribunal.
No ano passado, Chamisa separou-se do MDC e criou o CCC, determinado a tentar de novo garantir o lugar de topo.
Prometeu criar um novo Zimbabué "para todos", combatendo a corrupção, relançando a economia e tirando o país do isolamento internacional.
Muitos eleitores descontentes com a pobreza generalizada e a inflação galopante estão a apoiá-lo, mas ele não tem sido poupado a críticas, mesmo dentro do seu próprio campo.
Início da era Mnangagwa
Mnangagwa ganhou as eleições em 2018 com uma escassa maioria de 50,8%. Os protestos da oposição foram impedidos pelo exército, que matou seis pessoas a tiro.
A votação de 2018 veio acompanhada de enormes expectativas de mais liberdade e de recuperação económica, mas estas foram rapidamente dissipadas.
O Zimbabué continua isolado internacionalmente e a sua liderança é alvo de sanções ocidentais.
Mnangagwa culpa as sanções pelas desgraças do país.
Os seus apoiantes atribuem-lhe o mérito dos projetos de infra-estruturas, incluindo a construção de escolas, pontes e reparação de estradas.
A ascensão de Mnangagwa à presidência ocorreu após décadas de trabalho em estreita colaboração com Mugabe, depois de o Zimbabué se ter tornado independente da Grã-Bretanha em 1980.
Em 2008, terá alegadamente supervisionado uma onda de violência que obrigou a oposição a desistir da segunda volta do escrutínio.
Em seguida, tornou-se ministro da Defesa de um governo de partilha do poder, formado com a oposição em 2009, e vice-presidente em 2014.
Religião
A religião é um tema recorrente nas mensagens de Chamisa, mas os analistas dizem que isso tem afastado algumas pessoas das zonas urbanas da classe média, onde o partido é mais forte.
A palavra "Deus" aparece mais de 40 vezes no manifesto do CCC, que inclui entre as suas principais prioridades "fazer do Zimbabué uma nação que ama Deus, que honra Deus e que teme Deus".
O slogan da campanha é "God is in it" (Deus está nisto).
Já Mnangagwa descreve-se como um cristão renascido. Diz que se abstém de álcool durante seis meses por ano.
Formação política
Nascido em Masvingo, a sul da capital Harare, Chamisa estudou Direito e Ciências Políticas na Universidade do Zimbabué e tem também uma licenciatura em Teologia.
Atribui a sua carreira à insistência dos pais em que valorizasse a educação e se destacasse na escola.
Enquanto dirigente da União Nacional de Estudantes do Zimbabué no final da década de 1990, Chamisa esteve entre os organizadores de manifestações contra o governo de Mugabe que resultaram no encerramento de colégios e universidades.
Nascido em 1942, com o nome de Emmerson Dambudzo Mnangagwa (o seu nome do meio significa "adversidade" na língua shona), completou os primeiros anos de educação no Zimbabué antes de a sua família se mudar para a vizinha Zâmbia.
Em 1966, juntou-se à luta pela independência do domínio colonial britânico, tornando-se um dos jovens combatentes que ajudaram a dirigir a guerra, depois de ter recebido formação na China e no Egipto.
A sua alcunha deve-se à sua feroz unidade de guerrilha "Crocodile Gang".
Depois de fazer explodir um comboio, foi preso em 1964 e condenado à morte, pena que mais tarde foi comutada para 10 anos de prisão devido à sua tenra idade, o que o tornou um opositor da pena de morte durante toda a vida.
Após a independência, foi alegadamente parcialmente responsável por uma repressão brutal contra os apoiantes da oposição, que custou milhares de vidas, principalmente do grupo étnico minoritário Ndebele, no que é vulgarmente conhecido como o "massacre de Gukurahundi".
O mote da sua campanha é "Um país é construído pelo seu povo".
Chamisa - que é casado e tem um filho - subiu na hierarquia do partido MDC, ocupando cargos como o de líder da ala juvenil e o de porta-voz do partido.
Ao longo dos anos, ganhou a reputação de proferir discursos apaixonados, condimentados com humor - um forte contraste com o sombrio Mnangagwa.
No conturbado governo de partilha de poder que se seguiu às eleições de 2008, foi o membro mais jovem do Governo, ocupando o cargo de ministro das Tecnologias de Informação e Comunicação.
"Chamisa é uma figura muito carismática", disse o académico zimbabuense Brian Raftopoulos.
"Mas as suas fraquezas são a falta de responsabilidade dentro do seu próprio partido (e) a falta de uma visão a longo prazo."
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