A Polícia Federal do Brasil deflagrou nesta quinta-feira, 26,uma nova operação no âmbito da Lava Jato que tentou prender o empresário Eike Batista por suspeita de pagamento de luvas no valor de 16,5 milhões de dólares ao ex-governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, mas o antigo bilionário não foi encontrado.
Eike viajou ontem para Nova Iorque segundo informações preliminares obtidas pela polícia na madrugada com passaporte alemão.
No fim desta quinta-feira, Polícia Federal (PF)informou que pediu à Interpol a inclusão do nome de Batista na lista vermelha de foragidos internacionais da Interpol.
Antes, o delegado da PF Tacio Muzzi havia dito que se não houvesse um contato de Eike em "prazo curtíssimo" o seu nome seria passado à Interpol.
O advogado Sergio Bermudes, um dos representantes legais de Eike, mas que não está à frente da causa que levou ao pedido de prisão do empresário, disse ter informações de que Eike voltará ao país normalmente e se entregará às autoridades.
Ele considerou "exagerada" a decisão de incluir o seu cliente na lista de foragidos da Interpol.
Colaboração com a polícia
"O Eike não representa perigo nenhum, nem perigo público, não tenta prejudicar as provas que estão sendo produzidas no processo, de maneira que não vi razão para isso", disse à Reuters por telefone.
No início da noite, a assessoria do empresário divulgou uma nota afirmando que Eike "colocou-se à disposição das autoridades brasileiras para prestar todos os esclarecimentos e informações necessárias de forma a contribuir com as investigações em curso", assim que ficou sabendo da operação.
"Não se pode afirmar categoricamente que houve a intenção de fuga", disse o delegado Tacio Muzzi, da PF, em conferencia de imprensa.
"A Polícia Federal está em pleno contrato com a Interpol para saber se ele chegou realmente a Nova York, há informação que ele possa ter saído com passaporte alemão", acrescentou Muzzi.
Segundo uma fonte da PF, que pediu para não ser identificada, a mulher de Eike, Flávia Sampaio, embarcou para os Estados Unidos na quarta-feira com um filho do casal.
O Brasil não tem actualmente um tratado de extradição com a Alemanha, o que poderia complicar uma eventual prisão do empresário em caso de fuga para o país europeu, do qual Eike também é cidadão.
A prisão
O mandado de prisão para Eike Batista foi expedido pela Justiça Federal como parte da operação Eficiência, que investiga um esquema de corrupção liderado pelo ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral, que teria ocultado cerca de 100 milhões de dólares no exterior, de acordo com as investigações.
Investigadores da PF e do Ministério Público Federal, Cabral acumulou e ocultou mais de 100 milhões de dólares em luvas em diversas contas em paraísos fiscais no exterior durante sua passagem pelo Governo fluminense, incluindo um pagamento de 16,5 milhões de dólares efectuado por Eike Batista.
De acordo com o MPF, foram repatriados até o momento cerca de 270 milhões de reais (90 milhões de dólares) desviados pelo esquema graças a acordos de colaboração firmados com dois antigos operadores financeiros de Cabral que se apresentaram espontaneamente.
"O patrimônio da organização criminosa de Sérgio Cabral é um oceano ainda não totalmente explorado”, disse o procurador do MPF Leonardo Freitas a jornalistas.
Luvas de Eike
O empresário, por sua vez, já vinha sendo investigado na operação Lava Jato pelo menos desde o ano passado, quando prestou um depoimento espontâneo aos investigadores da operação em Curitiba acusando o ex-ministro da Fazenda e ex-presidente do Conselho da Petrobras Guido Mantega de ter pedido 5 milhões de reais (1,5 dólares) de propina no interesse do PT.
À época Eike não foi alvo da operação, mas os procuradores da Lava Jato confirmaram que o empresário era investigado devido a "indicativos claros" de que sabia da realização de pagamentos indevidos.
Nesta quinta-feira, os procuradores do MPF disseram que está sob investigação o pagamento de luvas de 16,5 milhões de dólares por Eike a Cabral usando uma conta bancária no Panamá, após solicitação do valor pelo ex-governador ao empresário em 2010.
A operação foi realizada em 2011, segundo o MPF, por meio de um contrato de fachada de uma empresa de Eike para a compra e venda de uma mina de ouro.
"De maneira sofisticada e reiterada, Eike Batista utiliza a simulação de negócios jurídicos para o pagamento e posterior ocultação de valores ilícitos, o que comprova a necessidade da sua prisão para a garantia da ordem pública”, disseram os procuradores responsáveis pelas investigações.
Um dos mais ricos do mundo
Os investigadores disseram que ainda estão apurando as contrapartidas para o pagamento das luvas, mas ressaltaram que já é possível configurar o crime de corrupção mesmo sem identificar as vantagens obtidas com o pagamento.
Eike Batista era o homem mais rico do Brasil e um dos mais endinheirados do mundo há menos de cinco anos, com uma fortuna calculada em cerca de 35 mil milhões de dólares, mas foi fortemente atingido pela queda no boom das matérias primas e sofreu com o colapso do seu Grupo EBX, um conglomerado de companhias de mineração, energia, construção naval e logística.
A ruína do grupo EBX também foi alvo de investigações de fraudes.