A semana passada foi dura para o Presidente Donald Trump. As manifestações por todo o país e o modo como fez face a essa crise levaram mesmo antigos dirigentes militares e o seu antigo Secretário da Defesa a criticarem a sua actuação.
Algo raro na história da América ver dirigentes militares a envolverem-se em questões políticas.
Mas para Donald Trump, a pensar nas eleições de Novembro e nas sondagens que o colocam atrás de Joe Biden, houve também boas notícias: surpreendentemente o nível de desemprego caiu para 12,7% algo que ninguém previa.
Alguns economistas disseram que o número não reflecte a realidade porque o Departamento de Trabalho não leva em conta aqueles que estão sem trabalhar mas continuam nas listas de pagamentos das empresas que tiveram fechar devido ao coronavírus.
Trump disse no entanto que a economia americana está agora de novo a arrancar como “um foguetão”.
O analista Ben Domenech do Centro de Estudos Federalist sublinhou a importância da economia para as perspectivas eleitorais de Donald Trump afirmando que a semana finda foi para o presidente “o melhor e o pior” ao mesmo tempo.
Para Domenech, que falava à cadeia de televisão FOX, o presidente “está muito mais confortável a falar de dados económicos de uma economia em crescimento do que a lidar com a guerra civil cultural que estamos a ver por todo o país”.
“As esperanças do presidente para o outono dependem em se ter um crescimento económico sustentável”, disse o analista.
“Penso que é muito cedo para dizer se isso se vai passar ou não tendo em conta os danos que o confinamento causou aos aspectos fundamentais da nossa economia”, acrescentou.
O Secretário do Trabalho, Eugene Scalia, mostrou-se optimista de que muitos “postos de trabalhar vão regressar rapidamente porque ainda lá estão”.
“Eu penso que podemos estar abaixo dos dez por cento até ao fim do ano”, disse Scalia para quem a perda de postos de trabalho deveu-se a questões de prevenção e não económicas e portanto“isto foi sempre algo de temporário”.
“Tínhamos uma economia extraordinariamente forte”, disse o Secretário do Trabalho que advertiu no entretanto que haverá “alguns empregos que vão demorar mais tempo a regressar”.
Os analistas concordam, no entanto, que face às enormes manifestações recentes a votação em Novembro terá também como pano de fundo as acusações de “racismo sistémico” nos Estados Unidos, as acções da polícia nas suas relações com a população africano-americana e as pressões para se retirar fundos aos departamento de polícia ou mesmo, como foi exigido por manifestantes em alguns locais, desmantelar a polícia.
Os democratas na Câmara dos Representantes preparam um projecto de lei de mais de 130 páginas sobre essa questão algo que se torna difícil tendo em conta que os departamentos policiais nos Estados Unidos estão sob controlo das autoridades das municipalidades e dos estados e não do governo central.
O senador Corey Booker, que foi presidente da câmara de Newark e que apoia agora a legislação para se reformar os departamentos policiais opôs-se à interferência do governo federal quando ocupava aquela posição.
Falando à cadeia de televisão NBC, Booker disse que numa cidade de maioria africano-americana, com maioria africano-americana na câmara e com um presidente da câmara africano-americano (ele próprio) houve uma tentativa de se reformar o departamento policial que tinha “décadas de desafios”.
“Não tínhamos contudo as estatísticas, a transparência e foi preciso ser o governo federal e o seu sistema de análise de dados para mostrar que não nos estávamos a movimentar tão rapidamente quanto devíamos”, disse o senador Booker. No entanto e apesar da ajuda do governo federal para a sua municipalidade, Booker concorda que há racismo “sistémico” nos Estados Unidos.
Jason Riley um jornalista africano-americano do Wall Street Journal mostrou-se cético quanto ao movimento que se assiste agora de tentar ver na policia a principal razão da situação de crime entre a população africano americana.
Para Riley todo o debate está a ser feito “sem o contexto certo ou alguns casos sem qualquer contexto”.
“Podemos falar sobre reformas de tácticas da polícia, podemos falar de reformar sindicatos da polícia, de expulsar os polícias maus e eu apoio tudo isso, mas isso não nos vai levar muito longe porque o centro dessa situação não é o comportamento da polícia mas o comportamento criminal” disse o jornalista que recordou que “qualquer coisa como mais de 7.000 negros são assassinados todos os anos”.
“A polícia está envolvida em dois ou três por cento desse número (de mortes)”, disse.
“Onde está o ultraje sobre isto? Os protestos e a raiva dirigidas aos 95, 96 ou 97 por cento de assassinatos de negros americanos que não envolvem a polícia de nenhum modo?”, interrogou.
"Por isso, mesmo que os manifestantes consigam por fim à violência da polícia contra negros, como eles dizem que ocorre, isso resolverá cerca de dois por cento do problema”, disse Jason Riley que acrescentou não ver os meio de informação ou os políticos a porem a questão no seu contexto real".
Este debate deverá fazer parte da campanha eleitoral e assiste-se já a Donald Trump a apresentar-se como defensor da “lei e da ordem” e de defensor da polícia.
“Isto prepara um confronto no outono entre por um lado a política do radicalismo e de tirar fundos à policia e do outro lado a lei e ordem” disse Ben Domenech.