Pelo menos 12 reclusos terão morrido em menos de 10 dias no estabelecimento prisional do Cavaco, o maior da província de Benguela, em consequência de doenças associadas à escassez de alimentos.
Começam a surgir ameaças de rebelião, também devido à falta de medicamentos e de assistência médica, conforme reconhecem funcionários da cadeia, entre guardas e administrativos.
Com quase 1.700 reclusos, o estabelecimento do Cavaco impede que familiares façam a entrega de toda a comida confeccionada.
Relatos obtidos pela VOA dão conta da existência de centenas de presos em estado débil.
As mortes, ocorridas nos blocos A, B e C, são, por outro lado, associadas a más condições de vida, próprias de um espaço que conta com o triplo da sua capacidade
“’São 12 reclusos falecidos, alegando-se muitas situações, entre as quais a fome. De manhã, por exemplo, dão um pãozinho e chá. A superlotação faz com que muitos durmam no chão’’, salienta um dos presos.
Este recluso, que não pôde falar mais do que três minutos, denuncia o que chama de “sinais evidentes’’ de desvio de alimentos
‘‘As nossas comidas (feitas em casa) não entram, há muitas restrições. Aqui, na logística, há desvio da alimentação para as casas dos familiares de funcionários. Quando a nossa comida entra, várias horas depois, chega fria’’, lamenta a mesma fonte.
Saídos de municípios do interior, que distam a mais de 100 quilómetros da cidade de Benguela, familiares ouvidos pela VOA à porta do estabelecimento confirmam o drama de reclusos
“As informações que temos é que há pouca comida, não chega para todos, mas não aceitam os nossos alimentos de casa. O que não existe são os medicamentos e a assistência’’, diz um jovem, ao lado de uma senhora, moradora da Baía, que lamenta a situação do seu parente, adoentado porque lhe ‘’falta tudo’’.
O director provincial dos Serviços Prisionais, Manuel Soma, falou em cinco mortes, provocadas por doenças como malária, tuberculose, anemia e desnutrição, mas negou que tivessem como motivação dificuldades no abastecimento alimentar.
Sem gravar entrevista disse que os direitos humanos são uma marca da instituição, assinalando que a existência de médicos e técnicos de saúde demonstra que “a situação está controlada’’.
Já o porta-voz da Delegação do Interior, Pinto Caimbambo, prometeu um pronunciamento depois de tomar contacto com a realidade.
Recorde-se que, em Agosto de 2015, 12 reclusos evadiram-se da cadeia do Cavaco, depois de terem agredido três guardas, tendo a maior parte sido recapturada poucas horas depois.