Donald Trump pode já não estar na presidência e não ter acesso constante aos microfones da televisão e também ao seu meio de comunicação preferido o Twitter que o expulsou da plataforma.
Mas o que é agora certo é que no inicio do próximo mês Donald Trump vai voltar ao cabeçalho dos jornais quando se iniciar o julgamento no Senado sob a acusação aprovada pela Câmara dos Representantes de incitamento à rebelião.
É algo que está provocar já intenso debate com muitos a interrogarem-se sobre qual o o objectivo disso, agora que Donald Trump já não está na presidência. Alguns políticos afirmam mesmo que num país profundamente dividido isso será como atirar gasolina à fogueira.
O objectivo político é o de impugnar o presidente no Senado, o que a a acontecer o irá proibir de participar em acções políticas no futuro, isto numa altura em que há notícias que Trump quer formar um novo partido político, o Partido Patriótico.
A constitucionalidade ou não do julgamento
A nível jurídico há quem interrogue mesmo a constitucionalidade de levar um ex- presidente a julgamento no Senado. Diz esse argumento que o Senado não pode julgar alguém que já não ocupa um cargo oficial porque isso será usurpar o papel dos tribunais.
Mitt Romney Senador Republicano que apoiou a impugnação de Trump na Câmara dos Representantes discorda dessa interpretação. Ele disse à CNN ter lido vários artigos jurídicos sobre questão e “a preponderância da opinião jurídica é que um julgamento de impugnação depois de alguém abandonar o seu cargo público é constitucional”.
“Eu acredito ser esse o caso mas vou ouvir o que os advogados têm a dizer para cada uma das partes mas penso que é bem claro que é constitucional”, acrescentou.
Mas mesmo que o caso prossiga no Senado – o que vai acontecer tendo em conta a maioria Democrata – isso não significa que Trump irá ser impugnado. Para isso é preciso que dois terços dos senadores votem a favor da impugnação o que significa que 17 dos 50 Republicanos terão que votar a favor.
Gerald Seib um dos directores executivos do jornal Wall Street Journal e que chefia a cobertura da Casa Branca e Congresso disse que “essa possibilidade é muito pouca”.
“Penso que vai haver alguns mas ficaria surpreendido se houver 17”, acrescentou.
A analista Democrata Donna Brazille concorda mas fez notar que recentemente o líder do partido Republicano no senado Mitch McConnell culpou o presidente pela invasão do edifício do Congresso, o que pode indicar uma mudança nos círculos Republicanos.
“Eu penso que vai ser difícil ter 17 Republicanos mas por outro lado quando Mitch McConnell falou no Senado a 19 de Janeiro fiquei surpreendida com os seus comentários”, disse à cadeia de televisão FOX acrescentando que por outro lado “é importante que haja essa votação e responsabilizem o antigo presidente”.
Julgamento poderá atrasar agenda de Biden
O que é certo contudo é que o julgamento de Trump no Senado surge numa altura pouco propícia para o presidente Joe Biden com uma agenda de nomeações para cargos de governo e programas governativos que têm que ser aprovados pelo Congresso. Para além disso para Biden - que fez um discurso de tomada de posse baseado na reconciliação - o julgamento pode ser visto como um acto de vingança política que visa afastar Trump da cena política.
Geral Seib do Wall Street Journal disse à cadeia de televisão FOX ser para ele óbvio que “o presidente Joe Biden nunca expressou muito entusiasmo por este julgamento de impugnação”.
.”Na Casa Branca não se opõem mas penso que estão conscientes que isto tem todo o potencial de ser uma distracção enorme que vai atrasar como o pacote para o combate ao coronavírus e também nomeações e confirmações de pessoas para o gabinete de Biden vão também ser atrasadas pelo julgamento de impugnação e isso não faz ninguém na nova admInistração contente”, afirmou Seib para quem apesar dessa “falta de entusiasmo” o julgamento no Senado vai acontecer.
“Um dos efeitos secundários disto que penso ser irónico é que isso vai dar a Donald Trump aquilo que ele mais quer que é mais atenção e mais oxigénio e isso não agrada também a muitos Republicanos”, acrescentou.
O julgamento de Trump começa no dia 8.