Dom Jaime Gonçalves, arcebispo emérito da Beira, é considerado o rosto mais visível da reconciliação em Moçambique, ao se notabilizar na mediação pela Igreja Católicad o Acordo Geral de Paz de 1992, que pôs fim a 16 anos de guerra.
As reacções da sua morte estão a chegar de vários quadrantes do país que classificam Jaime Gonçalves de “herói da reconciliação” e “porta-voz dos sem voz”, uma pessoa que inspirou confiança aos amantes da reconciliação transpondo as fronteiras da Beira e Moçambique.
Rafael Sapato, vice-reitor da Universidade Católica de Moçambique (UCM), disse que Jaime Pedro Gonçalves, 79 anos, "partiu hoje para o Pai", na cidade da Beira, vítima de doença.
A governadora de Sofala, Helena Taipo, considerou a morte de Jaime Gonçalves de uma “morte irreparável para a sociedade” e exaltou os seus feitos para a manutenção da paz em Moçambique.
Já o líder do Movimento Democrático de Moçambique (MDM) e autarca da Beira, Daviz Simango, afirmou que os amantes da liberdade, paz e da honestidade estavam de luto com a morte de Jaime Gonçalves.
“Perdemos uma das figuras mais visíveis da reconciliação, de paz, uma das figuras que com a sua própria voz dizia o que lhe ia na mente, fazia transmitir o sentimento das populações para paz e reconciliação”, precisou Simango, em conferência de imprensa na Beira.
Jaime Gonçalves foi o mediador da Igreja Católica moçambicana e do Vaticano no Acordo Geral de Paz, assinado a 4 de outubro de 1992, em Roma, e que encerrou 16 anos de guerra civil entre o Governo da Frelimo e a Renamo.
Gonçalves nasceu em Nova Sofala a 26 de novembro de 1936, frequentou o seminário em Zobué, província de Tete e prosseguiu os estudos em Maputo, Namaacha, Canadá e Roma.
Após os estudos superiores em Educação, Ciências Sociais e Teologia, assumiu a diocese da Beira em março de 1976, menos de um ano após a independência de Moçambique.
Condecorado pelo Estado moçambicano, em 2014, voltou a juntar-se a Joaquim Chissano e Afonso Dhlakama num evento da Universidade Católica, em Setembro de 2015, na Beira, no qual acusou os políticos de ameaçarem a paz com o seu “orgulho e medo” e de promoverem uma “democracia de ódio”.
Jaime Gonçalves sofria de doença renal crónica e o seu funeral será realizado sábado no cemitério Santa Isabel, junto ao túmulo de Sebastião Rezende.