Pelo menos duas pessoas morreram e nove civis ficaram feridos depois de terem sido baleados pela Polícia da República de Moçambique (PRM) nesta segunda-feira, 18, no bairro 7 de Abril, um subúrbio de Chimoio, na província moçambicana de Manica,.
Os incidentes aconteceram quando agentes reprimiam uma revolta popular provocada por aquela força de segurança, contaram à Voz da América várias testemunhas.
Um agente da polícia ficou igualmente ferido na revolta.
Relatos de vários moradores, dizem que a revolta iniciou-se no princípioda manhã, depois que agentes “deitaram fogo e saquearam” pela madrugada um armazém coletivo de vendedores informais e uma barraca pertencente a Paulino White, amigo pessoal do candidato presidencial Venâncio Mondlane.
White é tido como o homem que mobilizava o apoio aos protestos convocados por Venâncio Mondlane, candidato apoiado pelo Podemos, contra os resultados eleitorais e a brutalidade policial em mais uma fase dos protestos.
Em declarações à Voz da América, Paulino White explicou que um contingente policial expulsou os guardas, arrancou as câmaras do circuito de segurança e ocupou o estabelecimento que foi encontrado em chamas e saqueado no início da manhã.
“Queimaram minha banca um grupo que veio de uma viatura Mahindra da Polícia, tiraram aquelas câmeras de segurança para não serem vistos, queimaram tudo e não se recuperou nada. Fui à esquadra e tive um encontro com a comandante provincial da Polícia para perguntar porque estão a fazer isso?”, precisou Paulino White.
Um grupo de vendedores, parte dos quais que perdeu produtos no ataque ao estabelecimento, revoltou-se contra a PRM e disparou balas reais para reprimir a manifestação de repúdio, tendo duas pessoas sido baleadas de forma fatal.
Um cobrador de "chapas", nome conhecido de pequenos autocarros de trnasporte coletivo, foi atingido por duas balas na cabeça na estrada principal que dá acesso ao bairro, enquanto uma mulher foi alvejada por balas no quintal da sua casa durante os protestos violentos, e nove civis ficaram feridos, além de um agente da polícia.
Juvenal Chithovele, diretor clínico do Hospital Provincial de Chimoio, referiu que além da morte, há feridos graves e ligeiros entre as vítimas.
“Recebemos 10 pacientes, vítimas de ferimentos. Destes, três precisaram de ser levados ao bloco operatório para cirurgias de emergência, sendo que um tinha ferimento na cabeça e acaba de falecer, o segundo foi operado e a terceira está a ser operada”, explicou Chithovele.
Posto policial incendiado
A população revoltou-se com a brutalidade e incendiou o posto policial de Macabhabho, no mesmo bairro, onde continuaram confrontos entre os manifestantes e a Policia até o início da tarde.
A Polícia não respondeu de imediato o nosso pedido de comentário.
Etapa mortífera
Um total de 28 mortos e 200 detidos foram já contabilizados durante a quarta fase das manifestações de 13 a 18 de novembro, tida como a mais sangrenta, segundo a plataforma de monitoria eleitoral DECIDE e há dezenas de viaturas incendiadas em Maputo, Manica, Zambézia e Nampula.
Os números referentes à quarta etapa de protestos juntam-se aos outros mortos avançados por várias organizações não governamentais relativamente às várias manifestações que tiveram início a 21 de outubro, após o anúncio dos resultados eleitorais que atribuíram a vitória a candidato presidencial da Frelimo, com mais de 70% dos votos.
O analista político Wilker Dias alerta para a existência de um grupo à margem das manifestações a operar na vandalização de viaturas e estabelecimentos comerciais, para “manchar a postura das manifestações”, que se pretendem pacíficas contra os resultados eleitorais.
Após protestos de três dias que paralisaram o país nos dias 21, 24 e 25 de outubro, Venâncio Mondlane convocou outra paralisação geral de sete dias, que provocou um caos na capital Maputo e em várias cidades de Moçambique.
SADC com Moçambique na agenda
Na semana passada, na quarta fase dos protestos, Venâncio Mondlane encorajou os seus apoiantes a atacar as rotas comerciais com o Zimbabwe e África do Sul, países vizinhos de Moçambique, além de tocar panelas, apitos, buzinas e vuvuzelas, que geralmente são intercalados por disparos da Polícia, ao tentar reprimir manifestações feitas a partir dos quintais de casas.
A instabilidade no país corre o risco de extravasar a sua fronteira e criar problemas aos seus vizinhos, muitos dos quais estão a lidar com os desafios internos relacionados com a migração ilegal.
A Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) está a discutir a situação de Moçambique em cimeira que decorre desde 16 até 20 de novembro em Harare, a capital do Zimbabwe.
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