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Dois conflitos armados marcaram Moçambique em 2020


Deslocada de guerra, Campo 25 Junho, Metuge, Cabo Delgado
Deslocada de guerra, Campo 25 Junho, Metuge, Cabo Delgado

O centro e norte de Moçambique conheceram momentos de turbulência de dimensões diferentes, mas todos contra alvos civis.

Dois conflitos armados marcaram Moçambique em 2020
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Nas províncias centrais de Manica e Sofala, a autoproclamada Junta Militar da Renamo, liderada por Mariano Nhongo reivindicou ataques, na principal estrada do país, contra viaturas de transporte de passageiros e carga.

Nhongo, general da Renamo, é publicamente contra a nova liderança do ex-movimento rebelde, hoje partido politico.

O general, que recusou participar no processo de desmobilização e reintegração dos membros da ala armada da Renamo, exige a substituição de Ossufo Momade, que sucedeu a Afonso Dhlakama. Recusou ofertas de negociações com a Renamo.

No ultimo mês do ano, há indicações de que Nhongo está disposto a negociar com o Governo, mas não está claro e analistas dizem que tal processo deve ter a participação de mais vozes da sociedade moçambicana.

Na província de Cabo Delgado, com reservas estratégicas de gás natural, a insurgência agudizou. Várias centenas de pessoas foram mortas, muitas por decapitação. O número de deslocados ultrapassa meio milhão.

A ocupação do importante distrito da Mocímboa da Praia e do seu porto terá sido uma chamada de atenção para as autoridades de Maputo deixarem de publicamente menosprezar a acção dos insurgentes. Admitiram, pela primeira vez, que o grupo tinha ligações com o Estado Islâmico, e era necessária ajuda internacional para combater.

A SADC, Estados Unidos, União Europeia, e outros, manifestaram interesse em ajudar.

O senador americano Bob Menendez disse que“a situação em Moçambique é terrível e, infelizmente, não atraiu um nível apropriado de atenção dos formuladores de políticas”.

Menendez, disse no Senado, que é “trágico ver um país que parecia estar à beira da transformação arrastado de volta ao conflito. A situação não é de desespero (…) mas é urgente. Devemos agir agora”.

O Eurodeputado português Paulo Rangel, que tem a ajuda a Moçambique, disse que o país demorou a elaborar uma resposta, e agora é preciso garantir a protecção dos trabalhadores humanitários que assistem os mais de 500 mil deslocados.

Falta de clareza

No entanto, os termos da necessidade de ajuda permanencem pouco claros, dizem várias analistas, que questionam o posicionamento do governo de Nyusi na resposta à insurgência.

Uma das últimas críticas surgiu quando Nyusi disse, em dezembro, que as autoridades tinham desde 2012 conhecimento da instabilidade em Cabo Delgado.

A afirmação do presidente Nyusi revela que “o Estado falhou na sua missão de defender as pessoas”, disse Borges Nhamire, investigador do Centro de Integridade Pública.

Na lua contra os insurgentes, as autoridades moçambicanas recorrem à empresas militares privadas, entre russos e sul-africanos. O processo de contrataçao dessas empresas não é, na opinião de analistas, transparente, num país com histórico de corrupção.

Soluções

Muitos estudos apontam para a pobreza e desenvolvimente desigual como factores que contribuiram para a a radicalização de jovens em Cabo Delgado.

Com base nisso, há vozes que sugerem que a eliminação do grupo insurgente por via armada por si só não poderá durar se não for acompanhado por políticas que promovem a inclusão ou o convivio entre religiões.

“Envolver as pessoas nos processos de decisão sobre a forma como os fundos dos recursos naturais devem ser gastos” pode ajudar a evitar conflitos, disse a investigadora portuguesa Inês Vilela, uma das autoras do estudo “O acesso a informação pode prevenir conflito armado, quebrando a maldição dos recursos naturais tão comum em África’, do Centro de Investigação para a Economia do Desenvolvimento da Nova School of Business and Economics.

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