Analistas suspeitam que o dinheiro dos raptos esteja a suportar o terrorismo em Cabo Delgado, defendendo por isso que os Serviços de Informação e Segurança do Estado (SISE) investiguem, profundamente, as fontes de financiamento do chamado Al Shabab.
As grandes cidades moçambicanas estão, há bastante tempo, a serem afectadas por raptos, cujas principais vítimas têm sido empresários ou seus familiares, que são libertos após o pagamento de elevadas somas de dinheiro.
Algumas quadrilhas de raptores já foram desmanteladas, mas até aqui, nunca foi recuperado qualquer valor envolvido no resgate, pelo menos que tenha sido tornado público.
O Centro de Jornalismo Investigativo, tem estado a tentar compreender os contornos da logística da insurgência em Cabo Delgado, e o respectivo director, Luís Nhachote, diz que não se pode pôr de lado a hipótese de o dinheiro dos raptos alimentar o terrorismo.
"Aquilo que é o nosso conhecimento, ao longo deste tempo de trabalho, é que o dinheiro é movimentado através de outros canais que existem, como aquele que é chamado Awala, em que o valor é entregue a alguém, como uma mula, que leva a um destino ou a algumas casas de câmbio," disse Nhachote.
Ele anotou que "existe esse sistema em países árabes, em que alguém entrega dinheiro e recebe um código para um outro destino, pelo que é possível o dinheiro dos raptos ser usado como fonte de financiamento do terrorismo".
"Acho que o novo director-geral da segurança, deve fazer um trabalho de casa, para nós não só conseguirmos parar com os raptos, como também descobrirmos para onde vai esse dinheiro,” disse o analista Ismael Mussá.
Para Mussá, "pode ser que a partir daí nós tenhamos rompido com uma das fontes de financiamento do terrorismo, que são várias, e é preciso que a segurança trabalhe nisso, porque se nós não rompermos com a questão logística, vai ser muito difícil ganharmos esta guerra".
Enquanto isso, o analista Moisés Mabunda considerou que "não é defensável que a guerra em Cabo Delgado tenha começado sem ter havido qualquer alarme por parte da inteligência".
"Até hoje, cerca de três anos depois, não sabemos quais são as fontes de financiamento dos terroristas, se calhar é o dinheiro dos raptos", disse Mabunda que recordou que a guerra começou com um ataque a uma esquadra e ninguém se preocupou em aprofundar o que estava a acontecer.
Atacar uma esquadra onde está içada uma bandeira do Estado, "não é atacar um Banco para roubar dinheiro, claramente, isso é uma mensagem de guerra, e nós, na nossa letargia, continuamos sem alarme e a considerar isso uma coisa pequena; nós precisamos de um Serviço de Informação do Estado sério”, acrescentou Mabunda.