Pela primeira vez desde que foi aberto o processo de impeachment, a Presidente brasileira afastada Dilma Rousseff compareceu nesta segunda-feira, 29, ao Congresso Nacional para se defender das acusações de ter editado, em 2015, três decretos de créditos suplementares sem autorização do Congresso.
Ela também é acusada de atrasar o pagamento para o Banco do Brasil de subsídios concedidos a produtores rurais por meio do Plano Safra, as chamadas pedaladas fiscais.
Dilma chegou ao senado acompanhada dos seus apoiantes, entre eles o ex-Presidente Lula da Silva e os ex-ministros do Governo petista e foi recebida com flores pelos manifestantes contra o impeachment.
No seu discurso, mais uma vez deixou claro que o vem acontecendo na política brasileira é um golpe contra a democracia.
Dilma disse estar inocente, admitiu erros como tem dito nas últimas entrevistas e fez questão de ressaltar que não possui contas não declaradas no exterior.
"Não luto pelo meu mandato por vaidade ou apelo ao poder como é próprio dos que não têm caráter. Luto pelo povo do meu país, pelo seu bem estar. O que está em jogo no processo de impeachment não é o meu mandato", afirmou. Segundo ela, "o que está em jogo são as conquistas dos últimos 13 anos", afirmou.
No discurso, Dilma também chamou o impeachment de "golpe" e "pena de morte política".
"O Presidente Juscelino Kubitschek, que construiu essa cidade, foi vítima de constantes e fracassadas tentativas de golpe, (…), o Presidente João Goulart (...) superou o golpe do parlamentarismo, mas foi deposto e instaurou-se a ditadura militar em 1964. O Presidente Getúlio Vargas, que nos legou a CLT e a defesa do património nacional, sofreu uma implacável perseguição, a hedionda trama orquestrada pela chamada República do Galeão, que o levou ao suicídio", declarou.
Dilma Rousseff discursou por quase 50 minutos e foi aplaudida ao final.
Em alguns momentos do discurso, como ao relembrar o câncer, ela se emocionou e embargou a voz.
Dilma voltou a criticar as elites, afirmou que não cometeu crime de responsabilidade, e que, caso seja aprovado, o impeachment será um "golpe" e chamou o governo de Michel Temer de "usurpador".
"São pretextos para viabilizar um golpe na Constituição, um golpe que, se consumado, resultará na eleição indireta de um governo usurpador", afirmou.
"No passado da América Latina e do Brasil, sempre que interesses de sectores da elite económica e política foram feridos pelas urnas, e não existiam razões jurídicas para uma destituição, conspirações eram tramadas, resultando em golpes de Estado", concluiu a petista.
Durante todo o dia, Dilma Rousseff vai responder às perguntas dos senadores e a perguntas dos advogados de defesa e da acusação, bem como do presidente do julgamento, o ministro do Supremo Tribunal Federal Ricardo Lewandowski.
A sessão de hoje deve se estender pela madrugada.