Depois do clima de guerra entre os candidatos nas eleições presidenciais brasileiras e da divisão que o pleito causou no país, fica a incerteza em torno de como a Presidente reeleita vai conseguir a unidade prometida no discurso de posse.
Nas primeiras entrevistas, dadas ontem, 27, depois de se reeleger, Dilma Rousseff, do PT, disse ter disposição para conversar com todos em nome da união de forças por um Brasil melhor. “Disposição para dialogar, para construir pontes, para que nós possamos garantir de facto o que uma eleição sempre exige na democracia: mudança. Nós temos de ser capazes de garantir as mudanças que o país precisa e exige. Juntamente com as reformas que o país precisa e exige. E isso fica muito claro nessas eleições. Eu acho que é essa a base comum entre nós. E aí, a grande palavra nesse momento é diálogo. É dialogar com todas as forças”.
Para analistas políticos, como Daniel Machado, da Universidade de São Paulo (USP), para conseguir a unidade, Dilma, vai ter que melhorar a relação com o Congresso, que já não foi fácil no primeiro mandato dela. “Acredito que agora, depois do primeiro mandato, depois da campanha tão acirrada e depois das críticas, ela amadureceu. Eu acredito que ela chega agora com um jeito mais sereno e brando. Por que Dilma chegou à presidência da República, na primeira vez, sem nunca ter ocupado um cargo, sem nunca ter ganho um voto. Mas, agora ela se reelege conhecendo como funciona. Acho que nós queremos uma Dilma mais política no sentido bom da palavra, não politiqueira, mas uma Dilma mais aberta ao diálogo”.
Num Congresso ainda mais conservador que o anterior, a base aliada da presidente Dilma Rousseff continua sendo a maioria, mas a margem encolheu. Na Câmara Federal, do total de 513 cadeiras, Dilma contará, teoricamente, em 2015, com 336 deputados, de 13 partidos, 29 a menos que no mandato que termina este ano. No Senado também houve redução. Antes, Dilma contava com 53 dos 81 senadores, já a partir de 2015, serão 51.
Para muitos analistas, a presidente vai ter dificuldade para recompor as bases no actual legislativo. Já para outros, como o cientista político Malco Camargos, a partir do início do segundo mandato muito coisa ainda pode mudar e favorecer Dilma. “A tendência natural é que vários dos parlamentares que hoje fazem parte de partidos de oposição ou de partidos que ainda não aderiram ao Governo, quando começar o segundo mandato passam a aderir e ela via passar a ter maioria. A construção da maioria não tem relação directa com os partidos que estão na Câmara dos Deputados e no Senado. A relação é feita após a composição de Governo, a distribuição de ministros e cargos e também a distribuição de verbas no Governo”.
Na busca pela união para governar o Brasil, a presidente Dilma deve encontrar pela frente, como grande opositor, o candidato derrotado nas presidenciais, Aécio Neves, do PSDB. O cientista político Oswaldo Dehon lembra, no entanto, que o "tucano" além dos desafios de oposição vai enfrentar outros para se estabelecer como nome de destaque do seu partido, depois de ter perdido dentro de casa, no Estado de Minas Gerais, e de ter um forte concorrente em São Paulo.
"É de se esperar que ele, tendo assumido tantos compromissos com a oposição, vá buscar ser lider. Mas, ele vai encontrar um adversário de peso. O governador Geraldo Alckmin (PSDB) acaba de ser reeleito, entregou milhões de votos a Aécio no Estado de São Paulo e não pode concorrer mais para governador. É de se esperar que o Alckmin dispute com o Aécio as indicações para cargo de Presidente da República e cargos mais relevantes no país”, conclui Oswaldo Dehon.