A crise financeira, económica e social que afeta a maioria dos angolanos está igualmente a ameaçar o funcionamento das dezenas de lares de acolhimento de crianças na província de Malanje.
O número exato de instituições do género na eminencia de encerrar ainda não é conhecido.
O lar Kudielela, que acolhe atualmente 26 pessoas dos oito aos 24 anos de idade, pertença da congregação Mercedárias Missionárias da Igreja Católica, anunciou a intenção de fechar as portas.
A freira Dolores Vera Bera aponta entre as várias razões a falta de pessoal para cuidar da instituição e a redução das ajudas para alimentar, vestir e garantir a escola dos internos.
“As irmãs já não chegam e as pessoas que nos ajudavam aqui pertencem a uma ONG, essa ONG também está com dificuldades e a ajuda do Estado é pouquíssima”, afirma aquela religisosa.
A chefe dos Serviços Provinciais do Instituto Nacional da Criança (INAC) em Malanje, Sara Milagre, mostra-se preocupada com as informações que tem recebido da pretensão do encerramento de vários lares de acolhimento.
“É de lamentar porque naqueles lares são crianças que lá vivem e uma vez que fechem vão ficar fora da família, porque são crianças órfãs que foram acusadas de feiticeiras pelos seus respetivos familiares, também de algumas famílias que pertencem à Igreja Católica", afirma Milagre que lembrou que o Governo de Malanje reabilitou o Cento de Acolhimento Dom Roberto Benedito com apoio de seis instituições de caridade adstritas à Igreja Católica.
“No Dom Benedito, temos 70 crianças e nos outros lares estamos com 50 crianças, 35, 120 crianças”, conclui a chefe dos Serviços Provinciais do INAC em Malanje
Nas ruas da capital estão cerca de 270 crianças, uma situação que deve merecer reflexão e ajuda da sociedade.
Fernando Satumba, de 23 anos, interno no Lar Kudielela há 14 anos perdeu os pais enquanto criança.
Hoje no terceiro ano do curso de Direito lamenta com tristeza a informação sobre o encerramento da instituição.
“Além de nós, ainda há muitas crianças que precisam deste lugar, o Governo deve criar condições", pede Satumba.
O sociólogo Bartolomeu Papusseco admite ser preocupante o encerramento de lares de crianças "quando as maiores preocupações dos governos no mundo estão virada para a protecção das mesmas".
Só a Igreja Católica tem seis lares de infância e adolescência, nomeadamente Kudielela, Mamãe Muxima, Senhora das Mercês, Dori Lombe, Internato de rapazes de Mussolo (Quela) e a obra de rua Casa do Gaiato.
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