Um grupo de insurgentes capturou quatro embarcações artesanais de madeira, repletas de deslocados que fugiam de Palma, no norte de Moçambique, e outras seis embarcações de pesca , fazendo reféns os seus ocupantes, relataram à VOA nesta quarta-feira, 5, várias fontes.
É mais um capítulo da violência jihadista em Cabo Delgado que está a provocar uma grave crise humanitária e de direitos humanos com quase 700 mil deslocados e 2.600 mortes, metade delas civis, de acordo com a agência americana de recolha de dados Armed Conflict Location and Event Data (ACLED).
O grupo abordou as embarcações na Ilha Makolowe, junto do arquipélago das Quirimbas, ao largo de Cabo Delgado, e levou os barcos com os seus ocupantes para o continente, forçando o desembarque em Pangane, no distrito de Macomia, em que várias aldeias ainda estão sob controlo dos jihadistas.
“Na quinta-feira nós passamos (de Makolowe) e na sexta-feira quando chegamos à ilha Matemo recebemos informação de que alguns barcos que vinham atrás de nós foram capturados pelos malfeitores”, contou à VOA Saíde Abdul à chegada a Pemba nesta quarta-feira.
Abdul acrescentou que, após a informação da captura das embarcações, a “insegurança e medo” tomou conta dos cerca de 60 deslocados que seguiam na sua embarcação, numa viagem já por si arriscada devido à superlotação dos barcos precários e movidos à vela.
“Há um risco de nesta via (Palma-Pemba via marítima) não se passar esta semana”, contou outro deslocado à chegada a Pemba, relatando a existência de corpos a flutuar na rota, de pessoas que se fogem dos ataques terroristas.
A VOA tentou ouvir a reação da Polícia em Pemba através dos canais habituais de comunicação com a imprensa mas não obteve resposta imediata.
A nova vaga de deslocados de Palma está a ser provocada por ataques esporádicos do grupo de insurgentes que efectuou o ataque mais visível, desde o início da insurgência, em Outubro de 2017, naquele distrito onde estão os megaprojectos de gás natural, no final de Março.
“Na terça-feira da semana passada vieram de novo atacar, e é isso que nos faz sair de vez porque costuma vir dois a dois a queimar duas casas, três casas, que estão no fundo das aldeias”, disse à VOA Issa Ali, outro deslocado, referindo-se a novos incidentes em Palma.
As Forças de Defesa e Segurança confirmaram na última semana que desconhecidos, provavelmente pertencentes ao grupo de insurgentes que atacou Palma a 24 de Março, incendiaram casas, mas garantem que continuam a controlar a área.
Entretanto, a praia de Paquitequete, o ponto de chegada das embarcações em Pemba, continuou nesta quarta-feira a receber várias embarcações de deslocados que fogem das novas incursões dos ataques terroristas.
Vários deslocados permanecem na praia após o desembarque por não ter parentes para os acolher numa cidade já saturada de deslocados.