Dezenas de deslocados, que fogem da vaga de violência em Palma, estão acampados ao relento há vários dias na praia de Paquitequete, o ponto de desembarque das embarcações artesanais que chegam à capital Pemba, cidade sem capacidade para albergar mais refugiados.
A vila de Palma, o berço de projectos bilionários de gás natural, foi atacada por um grupo de insurgentes, supostamente ligados ao Estado Islâmico a 24 de Março, o que forçou a fuga de, pelo menos, 30 mil pessoas desde então, segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR).
“Dormimos aqui na praia com crianças”, lamenta Adrisse Mahomed, um deslocado de Palma que disse à VOA viver há uma semana na praia, numa barraca improvisada com folhas de coqueiro e coberto de capulanas, tecido tradicional moçambicano.
Expostos ao sol intenso, durante o dia, e ao frio, à noite, muitos estão indefesos e sem o básico para sobreviver, sendo que a maioria se alimenta de refeições doadas diariamente por organizações humanitárias e de pessoas de boa vontade.
Saíde Abdul, outro deslocado de Palma chegou à Pemba na quarta-feira numa viagem “não planificada”, como tantos outros se acampou na praia de Paquitequete, enquanto espera por um destino final da viagem, ainda incerto.
“Eu saí numa emergência, e o que nos queremos é o restabelecimento da segurança para voltarmos para casa”, observa Saíde Abdul, quem lamenta o tratamento dado aos deslocados a chegada.
As embarcações precárias e movidas à vela levam uma semana para fazer a ligação entre Palma e Pemba, e à chegada esperam até três horas no mar para ter a autorização de desembarque e assim permitir às autoridades certificar que não há insurgentes infiltrados.
Após a investida dos insurgentes a 24 de Março, novos ataques esporádicos do grupo avolumaram a insegurança na vila de Palma, que tem quase que diariamente relatos de abusos contra os mais vulneráveis.
As Forças de Defesa e Segurança confirmaram na última semana que desconhecidos, provavelmente pertencentes ao grupo de insurgentes que atacou Palma anteriormente, incendiaram casas, mas garantem que continuam a controlar a área.
Os ataques contra vilas do norte de Cabo Delgado iniciaram-se em Outubro de 2017 e até agora mais duas mil pessoas já foram mortas e mais de 700 mil forçadas a abandonar a região.
Organizações humanitárias têm feito repetidos apelos para angariação de mais fundos para a ajuda, que vai além da acomodação dos deslocados.