Na cidade moçambicana da Beira, milhares de pessoas vivem em condições cada vez mais degradantes no Grande Hotel, em tempos um dos maiores projectos hoteleiros de luxo em África.
Mais de 4.000 moradores vivem, sem nenhum custo, em 400 quartos numerados do hotel e outros 200 compartimentos, nos corredores, dispensas e quartos de banho, adaptados pelos inquilinos para acomodar numerosas famílias, sem energia eléctrica, água, sanitários e sistema de saneamento.
“A vida do Grande Hotel é péssima”, descreveu João Colete, responsável pelos moradores do hotel, onde ele vive desde 1998.
Colete receia o desabamento do tecto falso da estrutura que está encharcada de água da chuva e preocupa-se com o alargamento das rachas nas paredes, que aumenta a vontade de evacuação do edifício.
Aquele morador acrescentou ter escrito em 2000 uma carta ao presidente do Conselho Municipal, assim como ao Governo local, a pedir a evacuação das pessoas do hotel porque degrada-se diariamente.
Muitos chegaram ao Grande Hotel fugindo da guerra civil, mas depois da guerra os inquilinos chegaram sob pretexto de falta de habitação ou condições para pagar aluguer, incluindo funcionários públicos (polícias e enfermeiras), estudantes universitários e comerciantes.
Outros são desempregados, despejados dos arrendamentos, que se candidatam diariamente a viver em condições deploráveis de higiéne e expostos ao perigo de doenças e quedas das paredes, pela degradação do edifício, associado ao roubo de corre-mãos e escadas, barrotes, aros de janelas e portas, além de vidros.
Este ano cinco crianças caíram das escadas e varandas do edifício contra três de 2014. Uma delas morreu.
Outros três adultos – embriagados - igualmente caíram por falta de protecção das escadas este ano, mas sobreviveram.
Os largos e escuros corredores do edifício têm sido terreno fértil para venda de drogas.
Mas também para a violação de raparigas, tendo algumas filhas dos moradores engravidado dos agressores.
Uma estrutura de controlo dos inquilinos foi montada para travar a criminalidade e tem conseguido respostas positivas, mas são ineficazes para parar com a imundice,
Entulhos de lixo nas passadeiras e fecalismo nos corredores é um casamento responsável por várias doenças diarreicas e malária no edifício.
O Conselho Municipal da Beira tentou minimizar a situação de saneamento com a reabilitação de balneários no jardim do edifício, para atender as necessidades dos moradores, mas a empresa de distribuição de água cortou a ligação por falta de pagamento, tornando insustentável o seu uso.
“A pessoa quando está aflita fica sem ideias, não tem o que fazer” precisou Flora Julinho, que vive desde 1990 no Grande Hotel, onde nasceu os seus seis filhos, duas das quais casadas no local e a viver nas mesmas condições, sustentando que o aumento de inquilinos tornou “pior (a vida), porque somos muitos e com mais problemas”.
Em 2000, o Governo municipal anunciou a evacuação dos moradores do Grande Hotel para implantação de um outro projeto, mas a iniciativa não prosseguiu.
Nessa época, a Liga Muçulmana construiu 25 das 60 casas previstas para retirar os seus fiéis do local.
O autarca da Beira Daviz Simango reconhece as dificuldades daqueles moradores e assegura que estão em carteira planos para evacuação do edifício.
Neste momento estão em curso alguns estudos de viabilidade para o reaproveitamento da área ocupada pelo Grande Hotel.