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Daviz Simango: “O partido no poder é arquiteto da destruição da Unidade Nacional”


 Daviz Simango, líder do MDM, em campanha para as eleições autárquicas de 10 de Outubro 2018. Moçambique
Daviz Simango, líder do MDM, em campanha para as eleições autárquicas de 10 de Outubro 2018. Moçambique

Os ataques armados no centro de Moçambique e a insurgência em Cabo Delgado, norte, continuam a banalizar a frágil “Unidade Nacional”, fragmentada, desde a independência do país, há 45 anos, pela intolerância política e assimetrias regionais promovidas pelo partido no poder, dizem à VOA políticos e analistas.

Daviz Siamango: “O partido no poder é arquiteto da destruição da Unidade Nacional”
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Daviz Simango, presidente do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), diz que a Unidade Nacional é desconstruída pelo facto de existirem “moçambicanos de primeira e de segunda”.

“A ‘Unidade Nacional’ é uma bandeira que simboliza a visão dos moçambicanos, envolvidos numa nação unida” e constitucionalmente expresso, defende Daviz Simango, para quem esta tese vem sendo violada de forma sistemática por um Governo que tenta impor sua autoridade e visibilidade, mesmo que de forma “incompetente para dirigir algumas políticas de união”.

Entretanto, o analista Sansão Nhancale, entende que o conflito armado, no centro e, a insurgência no norte do país “coloca em cheque a ‘Unidade nacional’ ”, porque as guerras estão a separar pessoas, distritos e províncias.

“Estes conflitos só estão a agudizar a perceção negativa que as pessoas têm, de que, a nossa ‘Unidade Nacional’ não é totalmente forte, é uma ‘Unidade Nacional’ seletiva, e só é ‘Unidade Nacional’ para beneficiar alguns”, disse Nhancale.

As incongruências

Simango frisa que há “um distanciamento entre atos oficiais e atitudes no terreno”, insistindo que ao ser seletivo, o governo promoveu a descriminação e exclusão de outros moçambicanos e, automaticamente “na quebra do principio de união”.

“Só estão unidas pessoas que podem partilhar o bem, pessoas que podem partilhar riquezas, pessoas que podem partilhar a convivência coletiva” precisou Simango, observando que “não conseguimos gerir os vários conflitos do centro por falta de união e tolerância política” e, agora a insurgência, no norte, devido “às assimetrias”.

“A intolerância política em Moçambique é grave” ressalvou, assegurando que os conflitos no centro do país são uma forma de “justiça pelas próprias mãos”, como resultado da intolerância política, fraudes eleitorais e as injustiças sociais.

A Frelimo, partido no poder, não conseguiu transformar  a ‘Unidade Nacional’ de luta (pela independência) numa ‘Unidade Nacional’ de desenvolvimento
Martinho Marcos, politólogo

Por sua vez, o politólogo Martinho Marcos, observa que a “Unidade Nacional” está desacreditada no seio da população, na medida em que as “desigualdades desastrosas” são geradas pela gestão deficitária do Governo, tornando-se por isso complicado o apelo à união dos moçambicanos.

“Quando o Governo fala da 'Unidade Nacional', as pessoas já não acreditam nela, porque além da conotação política do termo com o governo do dia, se tornou num marco não democrático e de desunião entre os moçambicanos, pois sofre segregação social aquele que não se identifica com o sistema”, explica.

Sansão Nhancale partilha da mesma opinião e frisa que a ‘Unidade Nacional’ ontem “tinha um objectivo comum”, que era a libertação do colonialismo, por isso entende que a Frelimo, partido no poder, não conseguiu transformar "a ‘Unidade Nacional’ de luta (pela independência) numa ‘Unidade Nacional’ de desenvolvimento”.

Alimentar conflitos

Simango, também autarca da Beira, considera que o Governo podia ter poupado os custos avultados no combate a insurgência, “barbara” e “irreversível”, se tivesse investido na distribuição de riquezas, “se a educação estivesse lá, se a saúde estivesse lá, se os garimpeiros não fossem escorraçados (das minas), se as assimetrias não existissem”.

“É preciso compreender que o partido no poder é o arquiteto da destruição da unidade nacional” acusou Daviz Simango, adiantando que faltou oportunidade durante vários anos aos jovens que foram aliciados a engrossar as fileiras dos terroristas, em Cabo Delgado.

“O que o país hoje precisa fazer é tentar investir em massa nos jovens, criar oportunidades e tornar-se competitivo em termos de aliciamento - se comparado com os terroristas com projetos malignos de destruição de soberania - para que de facto os jovens vejam que há vantagens comparativas do lado do Estado e abandonar as fileiras do lado do terrorismo”diz Simango.

O país não é Maputo

O político entende que “é preciso compreender que o país não é Maputo, que Maputo não é Moçambique”, e por isso “é preciso sair de Maputo e começar a criar investimentos fora, e compreendendo que as grandes áreas férteis não estão em Maputo”.

Na partilha de riqueza, de recursos não existe ‘Unidade Nacional’ (…) é um discurso para distrair as pessoas
Sansão Nhancale, analista

Sansão Nhancale entende que o sul do país nunca teve grandes problemas de conflitos, se comparado com o centro e, agora o norte, porque “há sempre” uma perceção de que o sul é o mais beneficiado, quer nas políticas de desenvolvimento e ou sociais, sendo por isso necessário desconstruir esta situação com políticas de inclusão.

“Se olharmos para o recrutamento dos jovens que ocorre no norte do país para engrossar as fileiras dos terroristas, vemos que são jovens analfabetos e jovens sem ocupação, e são aliciados por falta de enquadramento social e económico, mas dificilmente no sul do país você terá uma organização daquelas a recrutar jovem assim, embora existam fatores de pobreza,” acrescentou.

O analista defende que a “Unidade Nacional” em Moçambique precisa de ser consolidada, e 45 anos depois da Independência continua uma unidade frágil, por razões de pobreza e assimetrias regionais.

“As pessoas começam a pensar que é apenas uma ‘Unidade Nacional’ de discurso, que é para proteger alguns”, e que quando chega a altura de “partilha de riqueza, partilha de recursos não existe ‘Unidade Nacional’ (…) é um discurso para distrair as pessoas”.

Contudo, entende que se a ‘Unidade Nacional’ fosse usada para defender o desenvolvimento e, as pessoas percebessem que o desenvolvimento do qual se fala “é essa escola, é o abastecimento de água, é isto e aquilo”, as pessoas “iam lutar para proteger aquelas conquistas”.

“Mas quando fala de conquistas, e a pessoa repara para a esquerda tem uma mata enorme, repara para direita nem uma estrada moderna tem, e você vai falar para essa gente de ‘Unidade Nacional', entende que é um chavão” concluiu.

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